1 - UMA CIDADE COM METRO - Guimarães tem de afirmar-se, cada vez mais, como uma cidade cosmopolita. Um bom começo é fazer um metro, subterrâneo ou de superfície. Dá um estilo inegável à cidade e permite-nos entrar para a associação europeia das cidades com metro. Se Mirandela já lá está, e tem meia linha do dito transporte, porque não a insígne Guimarães? De seguida, poder-se-ia aproveitar a linha GMR-Porto e considerar estações de metro todas aquelas que se seguem desde a Estação de Vila Verde até aos
outbonds do concelho. Isto potencia deslocações engraçadas, como aquela que ligará a Universidade – cuja estação tem de ter vinte estátuas do Cutileiro - ao Tarrafal. Para além disso, haverá sempre lugar ao lendário Conselho de Administração do Metro de Guimarães. Só de escrever isto, arrepio-me.
2 - UMA CIDADE DO SEXO - Outro tópico para o cosmopolitanismo de Guimarães é, claramente, o acolhimento de um festival de cinema porno ou de cinema gay e lésbico. Qualquer grande metrópole tem um certame desta estirpe. E isto deixa o clero claramente revoltado, o que é sempre bom a nível de confronto de classes – como se sabe, outro baluarte do cosmopolitanismo. Em complementaridade, fomente-se a prostituição de luxo. Nesta altura, está o caro leitor a pensar que eu sou lunático. Não, antes pelo contrário. Pense-se em Bragança e na capa que a conceituada Time lhe consagrou. Ainda consigo ver o título:
Europe’s New Red Light District. Durante anos, lutamos com o nosso pequeno centro Histórico para chegar onde Bragança chegou, em meia duzia de meses, com as suas pequenas.
3 - UMA CIDADE DE GRANDES CONTRASTES SOCIAIS - Qualquer cidade que queira ser ou parecer cosmopolita deve ter um pólo de grande tensão social constituido por uma zona rica ladeada por um bairro suburbaníssimo: ambos podem ser obra de um arquitecto reputado, objecto de estudo de escolas e escolásticas de arquitectura e sociologia. Precisamos disto. O binómio Av. Londres – Bairro dos Jagunços já deu o que tinha a dar. Necessitamos, igualmente, de minorias étnicas, sexuais e religiosas, de uma Chinatown maior que a do Centro Comercial Palmeiras, de minorias económicas (porque é que os grandes barões nunca vêm morar para a cidade?, deixo a interrogação) e de um bom gang.
4 - UMA CIDADE COM HABITANTES DE ALTO GABARITO - Uma figura de vulto da cultura nacional: Tabucchi em Siena. Eugénio de Andrade no Porto. Saramago em Lanzarote. José Cid na Anadia. Caros leitores, exemplos não faltam. Uma cidade cosmopolita alberga, pelo menos, um notável vulto da cultura nacional e / ou estrangeira. O dito cujo dá nome à cidade e a dita cuja dá-lhe casa, comida e uma escrivaninha. Um dos grandes mitos desta urbe era aquele que rumorejava sobre a hipotética vinda – nunca consumada – de Luís Sepúlveda para a Cidade Berço. Já o imaginaram a tomar café no Milenário? Se nada disto resultar, há sempre a hipótese de se encomendar uma obra a algum destes vultos – um poema a Graça Moura, uma ópera a Pinho Vargas – que verse sobre a nossa cidade.
5 - UMA CIDADE CUJA SEIVA URBANA CORRA NAS GRANDES AVENIDAS – E para isso, necessitamos de um Plano de Construção Civil em Massa: desenhem-se avenidas, praças e ruas, pejadas de prédios e de trânsito. Construa-se em betão armado. Mais cedo ou mais tarde, alguém habitará as casas. Nem que sejam
ocupas (cuja desejável presença daria ainda mais cosmopolitanismo à cidade). Fulcral e urgente é mesmo a construção de um túnel rodoviário, nem que seja de uma profunda inutilidade. Uma cidade sem túnel quase não se pode afirmar cidade.
6 - UMA CIDADE COMERCIALMENTE FORTE – É necessária a construção de grandes superfícies de consumo, de modo a criar um grande entreposto cultural de consumidores. Abram-se Fnacs, Habitats, Ikeas e Emporio Casa. Destrua-se o doentio e decadente comboinho de Natal do comércio tradicional. Finalmente, deixaremos de ir aos saldos nas cidades vizinhas. Cinco meses depois, estaremos no top.
Otelo de Guimarães