31.3.06

TRÊS RAZÕES PELAS QUAIS GUIMARÃES NÃO É UMA GRANDE CIDADE...

... Ou "pré manifesto eleitoral autárquico para 2009".

As eleições autárquicas de 2009 estão à porta, mais ano, menos ano. O 4800 GMR não quer ser oposição de nada nem alternativa a tudo. Contudo, considera fortemente a hipótese de se candidatar à Assembleia Municipal de modo a que quem de direito ouça o quê de direito. Seremos a força da verdade. A real-politik local. A devolução na continuidade. A voz da confiança cínica, entre muitos outros lugares comuns. Temos o orgulho inegável de sermos a primeira força panfletária da cidade a falar ássumidamente das próximas autárquicas, contrariando a lógica dos pézinhos de lã.
Para além de tudo o que foi referido - e dos subsídios inerentes ao cargo de deputado - somos francamente fãs do arremesso de tartes de nata das pastelarias locais à cara de quem as mereça, bem como do carreirismo político fácil, silêncioso e oportunista. Assim, aqui vos deixamos em jeito de bom fim de semana, com o magnânime, ubíquo, bicudo, realista e rapace pré programa eleitoral que antecede a nossa pré candidatura. Começou a lavagem ao cérebro.

TRÊS RAZÕES PELAS QUAIS GUIMARÃES NÃO É UMA GRANDE CIDADE.

1 – Guimarães é provavelmente a única cidade do país em que o século XIX e o início do Séc XX não existiram em termos de construção civil. Acresce a isto que a política de urbanismo vimaranense - a admitir que alguma vez existiu – foi pautada pela pequenez e/ou por uma demasiado marcada ideia de contenção orçamental. De tudo isto resulta que a maior avenida vimaranense não tenha sequer um mísero quilómetro, o que, para além de ser uma vergonha, é sinónimo de cidade pequena. Constrói-se sempre com base no complexo do Portugal dos pequenitos – a medida pequena impera e não se segue o exercício pombalino de construir em grande, para que poucos anos volvidos as construções não comecem a rebentar pelas costuras. Veja-se o que aconteceu com a circular de finais de oitenta, veja-se o que acontece com a nova circular, já para não mencionar a micro-estação de caminhos de ferro: obras à Liliput, que já dão problemas ou não tardarão em dá-los. Comparemo-nos com o arcebispado mais próximo no que concerne a este tipo de investimento e nem precisamos de cogitar muito para concluir o óbvio. Prometemos grandeza de vistas.

2 – A mentalidade vimaranense prejudica o desenvolvimento. Com efeito, há um sentimento de megalomania que não tem correspondência no plano da realidade: todos sabemos que vivemos numa cidade pequena, mas temos a mania que ela é grande. Todos sabemos que o Vitória não é candidato ao título, mas no final da época ficamos lixados por não termos sido campeões. Temos um centro Histórico que é minúsculo, mas não há quem não se tenha perdido nas vielas e travessas inexistentes. Este desfasamento da realidade impede uma reflexão séria sobre a cidade, uma vez que, alegadamente, não é necessária porque está tudo a correr bem. Prometemos um Mega Congresso que se vai chamar Pensar 4800.

3 – A falta de uma geração que faça coisas e a falta de entrosamento com a geração que pode fazer coisas. É fácil notar a debandada geral cada vez que milhares de putos de Guimarães vão para a Universidade. Existem poucos jovens com idades entre os 18 e os 25 anos. E os que existem, vivem enguetizados na Universidade do Minho (não me surpreenderia se um ou outro carro aparecesse carbonizado em Azurém), fechados numa comunidade académica dependente de outra cidade, para onde vão, muitas vezes, viver, uma vez que aqui não se passa nada e as casas são caras. Guimarães não oferece condições a quem quer fazer coisas e quem quer fazê-las ou não desce ao centro ou vai fazê-las para o arcebispado mais próximo. Prometemos rendas baixas - com autorizações descabidas para uma construção desenfreada - e uma Universidade, nem que seja privada.

Por agora é tudo. Os pontos 4, 5 e 6 a seu tempo surgirão.

JG, CG e OdG

30.3.06

GRANDES DITADORES EM GUIMARÃES II - ADOLF HITLER

No início dos anos trinta, Adolf Hitler viajou incógnito pela Europa para escolher os países que iria mais tarde invadir. Portugal não foi excepção. Reza a lenda que o ditador não conseguiu encontrar uma única justificação credível para o "Portugal, historicamente, pertence à Alemanha". Aqui o vemos em S. Torcato, depois de se ter deliciado com a igreja e com o santo conservado. Sobre a igreja, mostrou-se preocupado com a lentidão das obras. Sobre o santo, pediu que lhe enviassem a receita do embalsamento para o Reichstag. Durante a curta passagem por Guimarães, rendeu-se às Cantarinhas dos Namorados, tendo mesmo levado uma para oferecer a Eva Braun.

29.3.06

SEM REI NEM QUÊ?

Segundo as palavras da Rádio Fundação, há um novo adágio popular: o "sem rei nem ROCK". Cada vez que o leio, só me consigo lembrar de Afonso Henriques, Elvis Presley e de um bar mítico desta cidade.

28.3.06

TERTÚLIAS NO CAFÉ LOPES

Os autores deste blog vão estar em pessoa, no próximo sábado pelas 21.30, no Café Lopes*, para debater com os interessados o seguinte tema: "Guimarães no Século XXI: Urbanismo, Cultura e Sociedade". A entrada é livre.


*Rua D. João I, 18.

CENTO E DOIS ANOS DEPOIS, CONTINUAMOS À ESPERA

28 de Março de 1904 - Portaria fazendo provisoriamente a adjudicação da construção as linhas-férreas de Braga a Guimarães, Braga a Monção e Viana à Ponte da Barca. Diário do Governo, nº 9 de 12-IV-1904.

Fonte: Efemérides Vimaranenses, de João Lopes de Faria, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento.

25.3.06

TICKETS, PLEASE

Pois é, foi com um brilhozinho nos olhos que, hoje de manhã, numa esplanada na Oliveira, folheamos atentamente a programação do Centro Cultural relativa ao segundo trimestre deste ano. Fica provado que quem lá programa é leitor do 4800 GMR e, pior do que isso, recebe e concretiza as propostas que vamos fazendo. Veja-se a data e o conteúdo disto (em especial, o último parágrafo) e depois compare-se com isto e isto.
Os convites duplos podem ficar em nome de Jacques, Carlos e Otelo de Guimarães. Deixem na bilheteira que depois passamos por lá para levantar. Se quiserem mais sugestões, é só dizer. Estamos aqui para servir a cidade.
JG, CG & OdG

23.3.06

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS

Num dos meus périplos pelos talhos de Guimarães, onde procuro carne de cavalo argentina (que gosto de comer crua com molho tártaro), deparei-me com uma palavra inquietante para qualquer vimaranênse: FÊVERA.
Como todos sabemos não há ninguém a norte do rio Mondego que, de forma natural, consiga pronunciar correctamente esta palavra. O mais triste no meio de toda esta confusão linguística é que ao tentarmos dizer FÊVERA dizemos, invariávelmente FEBRA o que, por incrível que pareça, está absolutamente correcto. As duas palavras existem e têm o mesmo significado.
O facto de haver uma alternativa válida à palavra FÊVERA coloca-nos perante uma serie de questões:
Que espiritos obscuros povoam os talhos vimareneses e do norte de Portugal? Que tipo de gente é esta que se diverte a ver seres humanos desorientados em busca de uma pronúncia correcta, ou de uma suposta perfeição? E, por fim, quem é tão perverso que se divirta a ver um cidadão de plenos direitos a fazer um esforço gigantesco ao pronunciar correctamente a tal palavra? (note-se que aqui estamos a falar de uma minoria).
São questões que, obviamente, me ultrapassam mas sobre as quais não poderei deixar de tecer algumas considerações...
Com a experiência que anos de assídua presença em botequins e em estabelecimentos afins da, assim denominada, área da restauração me deram, pude constactar a existência do factor “inho” neste tipo de estabelecimentos. Há uma tendência para falar em “bitoquezinho”, “lombinho de boi”, “entrecostozinho” e noutra inominável variedade de pratos pesados que são brindados com este diminutivo carinhoso para, talvez, facilitar a digestão. Ora eu penso que os talhantes não serão muito adeptos destes diminutivos para designar as poderosas peças de carne que os seus estabelecimentos ostentam. Tendo em conta este factor será compreensível o uso e abuso da FÊVERA porque, como não será díficil de perceber dizer feverazinha não dá jeito nenhum...Há também uma hipótese de estes profissionais da carne não quererem confusões e ordinarices nos seus estabelecimentos porque, como todos sabemos, a palavra FEBRA é muitas vezes usada, como calão, para designar um "pedaço de mulher"...
Independente de todas as hipoteses de que nos possamos lembrar para entender o uso desta palavra nada justifica as humilhações que por ela são provocadas. Como humanista que sou fiquei profundamente incomodado quando um homem num talho, ao tentar dizer FÊVERA se viu intelectualmente rebaixado por não conseguir pronunciar a palavra correctamente e exclamou: “ Seus...seus...seus PIDES, seus DGSs dos diabos!”. Foi com sincera tristeza que vi um homem baixar a cabeça, soluçar e sair insatisfeito e rebaixado de um estabelecimento comercial da minha cidade, do meu Portugal.
Violência. Até quando?

Otelo de Guimarães

22.3.06

GMR 480 000

Ontem à noite apanhei o metro rumo a Vila Flor. À minha espera, as habituais comemorações do dia da Poesia no Centro Cultural: leituras de Pessoa, Sá Carneiro, Cesário, Florbela, Helder, Sena, Falcão e Firmino. O pequeno auditório estava quase cheio. Ao regressar a casa, fui assaltado à saída da estação de metro de Monte Largo. O meliante levou tudo o que tinha: um livro e uns sapatos estilo italiano comprados na Oliva.

20.3.06

O TEMPORA! O MORES!

Desde ontem que, nas bancadas do Afonso Henriques, o guarda redes do Vitória deixou de ser o "preto" ou o "puto do preto" para passar a ser o "Nilson", o "Grande Nilson" ou mesmo até o "Paredão".
JG

17.3.06

CINEMARÃES

Ao contrário de outras urbes, constante e maçadoramente elogiadas (toda a gente tem a mania de elogiar Lisboa, alguns elogiam – e bem melhor – o Porto; poucos vão cantando Braga, a Idolátrica ou A Mulher de Porto Pim, nos Açores), Guimarães passa ao lado do conceito de cidade elogiada, pese embora seja um peso pesado em termos de carga histórica inspiradora. Salvo parcas excepções, não se canta demoradamente a beleza da cidade, tal como Lorca fez com a Galiza em seis poemas. Apenas se passa por Guimarães com a rapidez de quem está a ir para outro lugar. Foi assim com Camões a caminho de Ourique, que apenas cita a cidade Berço uma vez e meia nos seus Lusíadas (C III, 31 : “De Guimarães o campo se tingia / Co sangue próprio da intestina terra”), o que se traduz numa grande vergonha para o poeta uniocular. Foi assim com Torga que no seu Portugal apenas lhe refere as “varandas onde ainda hoje apetece namorar”, antes de zarpar para Braga. De resto diz mal da cidade, tal como Saramago. Excepção seja feita a Herculano.
Ontem cumpriu-se o nonagésimo sétimo aniversário da primeira sessão pública de cinema na nossa cidade. É desolador verificar que apesar dos cenários, da beleza, da fealdade, de sejá lá o que fôr, ninguém filma Guimarães como cidade onde acontecem histórias. Poucos são aqueles que pegaram em qualquer um dos motivos mais que inspiradores acima indicados e os transformam em imagem em movimento. Temos apenas O Processo do Rei, Quando a Noite Escurecer e o telefilme Lagardère, onde o Tasquilhado e a sua rua são transformados em Paris do séc XVI. E nenhum deles retrata Guimarães. Antes se serve dela para retratar outro sítio qualquer. As únicas excepções são um documentário obscuro sobre o Rio de Couros e Nicolinas, de Rodrigo Areias, que se traduz num filme sobre e para a vimaranensidade. De resto, o amor, a morte, o sexo, a corrupção, a História e outros fenómenos igualmente cinemáticos só ocorrem em Lisboa, Porto ou aldeias perdidas na raia nascente. Para quando um biopic sobre Afonso Henriques – The Early Days? Para quando um épico sobre a batalha de S. Mamede? Ou sobre o nosso Gil Vicente? Ou um policial sobre uma falência fraudulenta de uma cutelaria em Sande, entretecido pelas paixões de uma operária fabril católica e sindicalista?

Jacques Guimarães


Imagens vimaranenses do telefilme Lagardère: em cima, notre chateau. Em baixo, a Rua de Santa Maria - e a entrada do mítico Tasquilhado - transformada numa rue parisienne. Consta que o senhor que está no chão é cliente habitual do restaurante "Paraxut".


16.3.06

A PRIMEIRA SESSÃO DE CINEMA

O Teatro Afonso Henriques em 1912, numa fotografia gentilmente surripiada ao arquivo de

A 16 de Março de 1909, o Campo da Feira e o seu teatro engalanaram-se a rigor. A cidade estava em polvorosa. Polvoreira também. As damas usavam belas grinaldas e gargantilhas ornadas com pérolas de Vizela e os cavalheiros vestiam elegantes fatos de noite feitos de lã de Caneiros. O Teatro Afonso Henriques estava enfeitado de buganvílias vindas de Ronfe e, à porta, a banda da Guarda Real da Polícia entoava o hino da cidade, composto dois anos antes por Aníbal Vasco Leitão. Guimarães preparava-se para receber, naquela noite de precoce Primavera, a magia do cinematógrafo.
Todo o escol da cidade estava presente para se deixar enfeitiçar pela magia da arte que viria a ser a sétima. João D’Oliveira Guimarães, Abade de Tagilde e Presidente da Câmara, roía as unhas de tanto nervosismo enquanto ia cumprimentando os ilustres convidados, o que lhe causava alguns sérios embaraços. Só foi acalmado por um gole de brandy de Mascotelos, oferecido pelo ilustre pasteleiro Avelino Silva Guimarães, tio bisavô deste humilde escriba. O Padre Gaspar Roriz mostrava-se apreensivo quanto às santas virtudes desta invenção francesa, enquanto que Pedro Guimarães Júnior, presidente da Sociedade Martins Sarmento, não escondia a alegria de ver cinema na sua cidade, traduzidas num eloquente e premonitor "um dia destes havemos de criar um clube de cinema". Presentes também Joaquim José de Meira, o mítico Capitão Amaral, o Dr. Eduardo “Duas Ruas” de Almeida e o temível General Eça de Chaby, com o seu olho de vidro e pose prussiana. Presente, também, o conhecido grupo anarco-republicano da Rua de Camões.
A primeira parte começou pouco depois das nove da noite. Foram projectados “Voyage Dans La Lune”, de Meliès, que fez desmaiar duas madames. De seguida, passou “O Zé Pereira na Romaria de Santo Tirso”, de Aurélio da Paz dos Reis, que provocou fartas risotas na assistência e fez alguém gritar “os thirsenses são uns parolitos”. Ao intervalo, seguiu-se um night lunch oferecido pela pastelaria de Avelino Silva Guimarães, propriedade do tio bisavô deste humilde escriba. A particularidade desse repasto foi que da sua ementa constavam umas "Pipocas à Minhota".
Mas o pior estava guardado para a segunda parte: a projecção de “A Chegada de um Comboio A Cascais”, filme de 1899, espalhou o pânico na sala. “Fujam, fujam que o comboio vem aí e vai matar-nos a todos”, gritava tresloucado o Prior da Colegiada, enquanto saltava selvaticamente por entre os insígnes espectadores que, informados acerca do que viam, se limitavam a sorrir com respeito pelo Prior e tementes a Deus Nosso Senhor. Com menos um espectador, deu-se o acontecimento tumultuoso da noite: a projecção de um filme chamado "El Rei em Braga", feito pela Empresa Portuguesa de Cinematografia em 1908. A sua exiição provocou profunda ira nos presentes. “Braga é pheia”, gritaram muitos, indignados pelo facto de El Rei também ter estado nessa mesma altura em Guimarães e de nada ter sido filmado, aqui começando a segregação de Guimarães por parte da comunicação social, com refracções ainda hoje palpáveis na área do desporto...rei. A turba levantou-se e insultou a tela, tendo-se ouvido pela primeiríssima vez a frase “está a sentar que já não chove”, que se tornaria num clássico do futebol, do Benlhevai à Amorosa e desta ao Afonso Henriques. Os ânimos com o Arcebispado Mais Próximo andavam mornos e a sociedade vimaranense não gostou do que viu (aqui nasce o sentido crítico do cinéfilo citadino), tendo disparado insultos contra Braga, contra o a utilidade do próprio Cinema e contra o próprio Rei D. Manuel II. Estes últimos justificam-se pelo facto de grande parte dos espectadores ser adepto da causa republicana e ter aproveitado a ocasião. O verniz estava mesmo estalado e só mesmo o arcaboiço e os dois pistolões do Sub Insprector Justino Pereira conseguiram pôr ordem na selvajaria que tomou conta do Teatro Afonso Henriques, na chegada do cinema a Guimarães. O saldo foi histórico: quatro filmes projectados e seis detenções por injúrias a Sua Majestade. Estávamos a 16 de Março de 1909 e o conhecido grupo anarco-republicano da Rua de Camões não achou a sessão nada de especial.

Jacques Guimarães

15.3.06

AS CIDADES IMBISÍBEIS - 1

AS CIDADES E O DESEJO

Da cidade de Vimaranis, pode-se falar de duas maneiras: dizer que cinco torres de granito erguem-se das suas muralhas flanqueando sete portas com pontes levadiças que transpõem o fosso cuja água verde do Rio Ave alimenta quatro canais que atravessam a cidade e a dividem em sessenta e nove freguesias, cada qual com trezentas casas, setecentas chaminés e um castelo; e, levando-se em conta que as raparigas de uma freguesia se casam com jovens das outras freguesias e que as suas famílias trocam as mercadorias exclusivas que possuem: cantarinhas dos namorados, pastelaria fina, vestuário falsificado, buchos, teares e talheres, fazer cálculos a partir desses dados até obter todas as informações a respeito da cidade no passado no presente no futuro; ou então dizer, como fez o taxista que me conduziu até ali: "Cheguei aqui na minha jubentude, uma manhán, para ber o Bitória – Aston Billa; muita giente caminhaba rapidamente pelas ruas em direçoum ao estádio, as mulheres tinham dientes lindos e olhabam nos olhos, três soldados tocabam clarim no Toural, e em todos os lugares ali em torno rodas girabam e desfraldabam-se escritas coloridas. Antes disso, num conhecia nada além da floresta e das rotas dos contrabaundistas. Aquela manhán em Bimaranis senti que não habia bem que num pudesse esperar da bida, excepto tornar-me construtor civil e enriquecer à custa do betoum. Nos ános seguintes os meu jolhos boltaram a contemplar as extensões da floresta e as rotas dos contrabaundistas; mas agora sei que esta é apenas uma das muitas estradas – talbez a N101 - que naquela manhán se abriam para mim em Bimaranis".

Jacques Calvino & Italo Guimarães

14.3.06

CINEMA REAL

Ao ler o título deste meu post o caro leitor poderá ser levado a pensar que D. Duarte Pio de Bragança tem lugar cativo nas salas de cinema Vimaranenses, ou então que é sócio honorário do cine-clube de Guimarães. Mas não, nem sua quase Alteza Real se desloca a Guimarães para se deleitar com a última pelicula do Woddy Allen protagonizada pela belissima Scarlet Johansen, nem tão puco paga € 3,00 por mês ao clube de cinema local. Falo-vos isso sim, do novo estúdio de cinema existente na nossa cidade. Como devem calcular, apoio todo o tipo de iniciativas de engrandecimento da nossa cidade e a abertura de novas salas de cinema constitui, sem duvida um motivo de alegria e orgulho para todos os Vimaranenses. Mas, pensemos friamente, será o parque das hortas o local ideal para ganhar dinheiro com a sétima arte??? A pergunta só não é mais pertinente porque não fui eu quem lá enterrou o dinheiro. Mas em todo o caso, e como amante do cinema e admirador daqueles que desfiam tudo aquilo que já foi escrito acerca da "melhor forma de investir dinheiro em Guimarães", aqui fica um conselho para adiar a falência o mais possivel. Sugiro que façam um contrato com o Mini Preço do tipo, leve 15 iogurtes e vá ao cinema. No caso do Mini Preço não ir na conversa (o que é perfeitamente compreensivel) sugiro que à semelhança do que sucede com alguns clubes de futebol abram as portas de vez em quando.


Carlos Guimarães

A BAIXA

No passado dia 23 de Fevereiro, recebi a visita de um ilustre amigo, natural e residente na cidade de Lisboa. Ao chegar a Guimarães, peguntou-me logo se podiamos ir à baixa tomar uma café! Fiquei boquiaberto a olhar para ele, e só à custa da minha imensa experiência no mundo das artes dramáticas, consegui disfarçar a mescla de espanto, admiração e ódio que perpassava o meu ser. Bem, o amigo leitor compreenderá, por certo, esta mistura de sentimentos, mas para que não restem dúvidas aqui segue uma curta explicação. O espanto e admiração são fáceis de explicar e devem-se apenas à circunstancia de nunca me ter passado pela cabeça que numa cidade dominada por uma montanha de 400 mts, que dista 40 kms do mar e cujos rios estão práticamente todos entubados, me fizessem esta pergunta. Já o ódio, caro leitor, radica no facto de eu entender que a baixa "até" traria beneficios à cidade. E, como é lógico, na ausência de uma coisa que não temos e consideramos que "até era capaz de ser bom termos" o ódio é a única saída. Confrontado com estes sentimentos, e com um incontrolável pulsar Vimaranense, acabei por tomar café no Hospital Senhora da Oliveira, onde o meu amigo foi tratado das bárbaras agressões que lhe infligi.
Tudo isto para dizer apenas o seguinte: talvez não seja de todo descabido construir o novo shopping nas franjas do fétido Ave.

Charles Guimarães

UM MUSEU DE ESCULTURAS NA PENHA: MITO OU REALIDADE?

Na passada semana, li uma interessante crónica num jornal local acerca da criação de um museu de esculturas ao ar livre na montanha da Penha. Pensei que estava a ler mal, mas depois lembrei-me do seguinte, "já lá existe uma pujante figura de ave de rapina, que ostenta dizeres acerca de qualquer coisa que agora (na altura) não consigo precisar". Se o precedente já está aberto, é caso para dizer, como o ditado, "quando o mal está feito, já só há um remédio - Guronsan". Mas eu pergunto caro leitor, será este um caso para que se aplique o famigerado ditado? Ou, pelo contrário será antes um caso de "há bolinhos, há coiratos, há pipis, há Alka Seltzer"? A resposta não é facil, mas deixemos aqui algumas considerações que certamente conduzirão o caro e amigo leitor a bom porto: como é do conhecimento público há três tipos de pessoas que frequentam a Penha:
1- Os praticantes de BTT;
2- As velhotas semi-alcoólicas que se promenadeiam no comboio turistico.
3 - Os amantes furiosos que levam as suas amásias para a montanha em carros quitados.
Se é verdade que a utilização da parte de cima da montanha (onde presumo ficarão instaladas as esculturas) feita pelos primeiros, é absolutamente marginal e se resume a fazer dela uma espécie de trampolim para a descida, tambem é verdade que o segundo grupo faz da parte de cima da montanha um verdadeiro chalé de fim de semana. Pois bem, será então razoável brindar as simpáticas senhoras com arte ao ar livre? É uma jogada arriscada, uma vez que a arte da qual elas são carismáticas apreciadoras traduz-se em malgas de sete por três verdes-tinto, papas de sarrabulho e nas esbeltas esculturas pagãs e religiosas daquela lojinha que vende Nossas Senhoras com camisolas do FC Porto, Sporting e Benfica. No que diz respeito ao terceiro grupo, por muitos Cutileiros ou Guimarãeses que lá se cultivassem, os vidros embaciados e / ou foscos dos seus Renaluts 5 Alpine Turbo com motor quitado de Audi A3 obnubilá-los-iam de poder contemplar a beleza escultural enquadrada na paisagem natural.
Mas há mais: como se sabe, a Penha é um palco habitual e privilegiado para a prática do "chincalhão". Mais uma vez pergunto: será razoável colocar esculturas no ponto de mira dos jogadores de chincalhão da região, sabendo, como sabemos, qual a percentagem de insucesso dos seus lançamentos?
Em conclusão, é de desconfiar deste tipo de iniciativa, uma vez que a sua pragmatização iria trazer minorias vanguardistas à montanha que só iriam estragar o seu ambiente. É que eu, tal como muitos, entendo a Penha como uma reserva natural e humana da vimaranensidade. Querem esculturas ao ar livre? Parque da Cidade com elas, e já.
Carlos Guimarães

13.3.06

TESTE A SUA VIMARANENSIDADE E GANHE UM POST A PEDIDO

Quem foi Aníbal Vasco Leitão?
O vencedor tem direito a decidir o título do meu próximo post.

UM REI NA CIDADE

Roberto Carlos esteve dois dias em Guimarães. Atentem nisto: o rei do amor esteve na nossa Cidade não um, mas dois dias. Repito: o Roberto Carlos esteve em Guimarães. Deu dois concertos memoráveis (fui eu quem começou com o mosh ontem) e andou por aí a passear. Incendiou corações da geração quarento-cinquento-sessentona. Daqui a nove meses vai haver baby-boom de mães com mais de quarenta anos. A chama do amor no vale do Ave brilhou mais forte Sábado e Domingo. Depois de ter visto o Oceano na Mindus e o Tim Roth na Oliveira pensava que o naipe de figuras planetárias na minha cidade ia entrar num ciclo descendente. Mas não, o Roberto Carlos esteve em Guimarães e malhou um pingo directo no Milenário, que fedia a urina como há muito não se via. Fedia tanto que eu nem consegui pedir-lhe um autógrafo. Mas lá estava ele, com aquele ar de "baleia no oceano", todo de branco, qual noiva imaculada, no coração da nossa cidade, como se fosse um de nós. Depois, andou a ver as montras no Toural de cima. Esteve quase para comprar uma parca na Tope. Mas foi audível a sua justificação: "é muito caro, se estivessem em saldos até era bem capaz", disse o rei do amor, alertando quem de direito para os preços elevados que esse estabelecimento pratica.
Qualquer dia ainda me arrisco a ver o Ringo Starr na Farmácia Paula Martins.
JG

4800 TOPS - MITOS E FLOPS DAS CONTRATAÇÕES DO VSC

1 – Skhuravy - Antes do Itália 90, este gigante esteve com os dois pés no Vitória. Depois foi o que se viu: ficou conhecido como o remate ao poste mais caro de sempre do futebol português, ao serviço do Sporting. Neste ano ainda, houve quem jurasse que o guarda redes suplente da selecção da Jugoslávia, Ohmerovic, já comia mousses na Ribela e que o Letchkov andava à procura de casa no Salgueiral.
2 – Tuta - O BatisTuta da Rua da Arcela.
3 – Fábio Junior - Da Fontana di Trevi para a Fonte do Toural.
4 – Diogo Oliveira - O Neo-Mundinho.

9.3.06

UMA LÁGRIMA

Desde criança que frequento as mais díspares e variadas pastelarias, café e demais "botequins" da nossa cidade. E, desde essa tenra idade que sou acometido desta peculiar curiosidade que só hoje 87 anos passados sobre a minha primeira entrada num café de Guimarães, partilho com os queridos leitores: porque será que em todos os supra citados estabelecimentos há, pelo menos, uma garrafa de vinho do Porto "LÁGRIMA"?
A pergunta tem tanto de inusitada como de pertinente, senão vejamos: o caro leitor saberá, certamente, que o famoso vinho do porto branco "Lágrima" hostenta no rótulo uma pujante gravura do rosto de Jesus Cristo. Ora, isto leva-nos a fazer uma serie de perguntas, muitas daquais ficarão certamente sem resposta. Será a garrafa colocada nos escaparates para abençoar o lugar e por extensão o negócio? Terão as pastelarias Vimaranenses um obscuro contrato de fornecimento desta marca de vinho (esta questão fica ao cuidado da garrafeira Silva Carvalho, se nos estiver a ler, obviamente)? Será a pastelaria uma arte tão dificil que faça chorar (note o ilustre leitor que não se afigura fácil fazer chorar alguem com a experiência de vida de Cristo)? Será que a presença destas garrafas com a cara de Cristo visa substituir os crucifixos, esse artefacto tão demodeé, nos dias que correm?
À vossa atenção

Charles Manson Guimarães

7.3.06

TWINMARÃES

Numa possível tentativa de geminação com (uma infelizmente já inexistente) Nova Iorque, a nossa cidade tentou criar algo de novo: espalhou pequenas torres gémeas (ainda que, por vezes, gémeas falsas) por diferentes áreas do concelho. Estas edificações fazem, sem dúvida alguma, surgir uma aurora cosmopolita na nossa cidade e talvez posicionem Guimarães na ambicionada rota do “terrorismo islâmico” (vejam-se os casos de Nova Iorque, Londres e Madrid – cidades ultra- cosmopolitas), isto depois da tentativa frustrada de atacar a penthouse do Hotel Fundador com uma asa delta nem sequer ter tido destaque na imprensa local.
Se, ao contrário de Londres, não temos estações de metro e se não possuimos, como acontece em Madrid, uma estação ferroviária muito movimentada, temos em comum com Nova Iorque (pré 9.11) o facto de existirem, em Guimarães, torres gémeas. Se é verdade que todas estas torres foram construidas após o trágico 11 de Setembro não devemos, por este motivo, considerar que o seu potêncial enquanto alvo diminuiu. Devemos, num exercício mental rápido (e genial), recordar que as Torres Gémeas de NY já existiam antes do nainelében e foi precisamente por isso que se tornaram no alvo que agora já não são. Não podemos também excluir a hipótese de colocar um cartoon gigante nas nossas torres para que elas se tornem um alvo mais apetecível.
Todo este raciocínio serve, pois, para justificar a construcção destas torres e, nalguns casos, desculpar a sua localização. Tudo isto porque o vimaranense não quer só viver (ou continuar a viver) numa Cidade Património da Humanidade, quer viver numa cidade cosmopolita e está disposto a arriscar tudo por isso.
Existem em Guimarães algumas destas torres. Sem por em causa as suas qualidades arquitectónicas intrínsecas, o seu conforto e a sua qualidade de construcção, passemos a uma pequena análise de dois destes portentos de enquadramento paisagístico:
1 - Twin Towers do Campo da Feira: Estão bem ali atrás da Igreja a tentarem esconder-se. O problema é que são um pouco mais altas que o templo cristão. Construídas nos limites da zona tampão do centro histórico, estas torres podem ser consideradas, pela sua localização, uma das maiores vergonhas da urbanística vimaranense e um dos maiores símbolos da cultura do betão. Independentemente de tudo o que for dito ou escrito, o que é facto é que tão cedo não voltaremos a ter esta imagem nos postais...


2- Twin Towers de São João de Ponte: Apesar de se destacarem pela sua clara semelhança com muitas das torres de Manhattan estas chocam por se encontrarem numa zona levemente menos urbanizada. Têm dez andares com vista para o rio Ave. Estão mesmo à porta das Taipas e são vistas, por especialistas, como uma tentativa do MTAC (Movimento Taipas a Concelho) para obnubilar Guimarães. Dez andares em cima de um campo agrícola. Aqui se pode vêr a semelhança com Manhattan...
´


Otelo de Guimarães

PS: Não prentendo com este meu pequeno texto julgar ninguém: nem civilizações, nem culturas, nem responsáveis pelo PDM (pelo seu cumprimento ou revisão). Quero apenas dar uma opinião, continuar vivo e ser feliz.

6.3.06

O NOSSO ÓSCAR



Ontem à noite decidi ir ver os Oscars para o café homónimo. Estava fechado. Que pouca vergonha, pensei, enquanto que, em vão, tentava abrir a fechadura com o meu cartão multibanco. Acho lamentável que um café chamado Óscar esteja fechado na noite da cerimónia dos mesmos. Se fosse Café Milton ou Café Silva, tudo bem. Agora um café que ostenta a estatueta holywoodesca no seu grafismo não pode privar a comunidade cinéfila de Guimarães de aí assistir à cerimónia dos prémios de cinema da Academia americana. Estar no Óscar na noite dos Oscars era o mais próximo que nós, cinéfilos da cidade, poderíamos estar do Kodak Theatre. E uma oportunidade de facturar milhares de euros (através do aumento de 1,5 € de todos os preços da ementa). Tive que me contentar com a casa do Carlos Guimarães para assistir ao certame e aos seus devaneios sobre cinema alemão pós-Fassbinder.

Philip Seymour-Hoffman, o grande vencedor, levou o nome de Guimarães até Los Angeles: rejubilámos com a sua vitória mas não escondemos o nosso desalento pelo facto de não ter feito nenhuma referência à cidade no seu discurso. Como se sabe, Philip é filho do senhor Hoffman, ilustre vimaranense que frequenta as cervejarias, cafés e quiosques do Toural de cima. Como se sabe também, o novo melhor actor americano disse que a sua mãe o criou sozinho, o que não deixa dúvidas sobre uma história que o senhor Hoffman me contava: que tinha fugido de Nova Iorque para Guimarães e lá deixado mulher e filhos. E pior: aqui há uns anos, encontrei Philip Seymour-Hoffman num conhecido restaurante dos arredores da cidade. Mas, como dizia o outro, that's another story...
JG

E PRONTO...

... terminou hoje a lendária Cartilha 4800. Ao longo de quase cinco meses, a equipa do 4800GMR brindou o público vimaranense com a edição de vinte e três modos de ensinar as letras e de transmitir a vimaranensidade aos mais novos. Agora, esperamos calmamente pela edição em livro - um best-seller garantido - e pela inclusão desta cartilha nas escolas primárias do Concelho. Entretanto, novas rubricas se avizinham. Anyone for tennis?

CARTILHA 4800 - LETRA Z

Zizi zarpa de Zundaap de Serzedelo até Vizela. Vai aos ziguezagues porque a zurrapa que Zézé, o zuzuto de Prazins, a exortou a beber enzonzou-a. Em Vizela, na casa do zairense N’Zuzi, ouve onze zarzuelas, antes de zortar para a casa da vizinha Zilma, uma brasileira zizanista por quem Zizi sente um desprezo atroz.

2.3.06

HEIDI E MARCO EM GUIMARÃES (2)

H - Marco, olha quem ele é! O Tó Messóia, de Silvares.
M - Pudera, Heidi Fleiss. Ele falta às aulas do Liceu e vem para o lendário café Arlequim esquecer as tristezas da adolescência. É um gandulo e já está todo comidinho pelo bagaço. Ó p'ra ele armado em atleta.
H - Não digas isso, Marco Pólo. Sabes bem que o meu coração pulula de emoção cada vez que o vejo. Sinto-me como Camões e o seu fogo que arde sem se ver.

TM - Olá, malta! Quem quer ir ali ao Nandes beber o último antes da carreira para Silvares?
H - Eu, eu! Eu vou Tó. Hoje já bebi cinco e estou com um hálito confrangedor. Beijar-me-ás, Tó?
TM - Ò Hei-de, deixa-te de parolices românticas e diz antes que me amas.
H - Não te amo, quero-te, Tó.

M - Não perdes pela demora, pulhastro de Silvares. Um destes dias ainda t'heidi fazer a folha.

CARTILHA 4800 - LETRA X

Xavier faz xixi no chafariz do Carmo. Xiça, acho que com este xaxualhar xixo melhor! exclama Xavier, extasiado por expelir o seu xixi.