30.5.06

MILÃO

No âmbito de um livro que recentemente escrevi, intitulado “O bem estar e a nossa extinção – A última ironia de uma espécie”, tive que me deslocar a Milão para ministrar uma palestra subordinada a este tema.
Devo dizer que a conferência correu bem até ao momento em que fui agredido pela directora de uma maternidade que, temendo perder o seu emprego, discordou fisicamente das minhas permissas. Depois de se ter acalmado veio pedir-me desculpas pessoalmente. Com o fairplay que me caracteriza aceitei. Após o seu tocante pedido de desculpas, dela apenas espero gémeos e que me mande uma gravata azul que, por esquecimento, deixei ficar no seu quarto.
No dia seguinte decidi passear por Milão para recuperar de todos estes sobressaltos. Estava um daqueles dias estranhos, em que as nuvens escondem, timidamente, um sol que pode irromper a qualquer momento. Resolvi parar na Piazza del Duomo, para comer a clássica francesinha à milanesa e beber um vermute. O meu destino era a Catedral de Milão.
Com o estômago um pouco cheio e a bexiga apertada rumei apressadamente ao imponente templo. Ao chegar lá ajoelhei-me, fechei os olhos e orei. Este movimento deve ter exercido uma pressão excessiva na minha bolsa de retenção de urina e tive que me levantar apressadamente. Ao olhar para a rosácea central da catedral fiquei subitamente sem ver após ter sido incandeado por três fortíssimos feixes de luz que saíam das aberturas existentes acima da rosácea. O sol, astro pai, tinha vencido a sua luta com as nuvens! Um padre veio em meu auxílio julgando que eu era cego. Os meus movimentos atabalhoados levaram-me a cair e a bater com a cabeça nos pés de um santo que se encontrava numa zona lateral. Levantei-me e, apesar de cambalear um pouco, orientei-me quase normalmente. O meu incandeamento tinha passado. Contudo algo de estranho tinha acontecido. Virei-me para o padre que me tentava ajudar e balbuciei: “mi...mi..mi...mi”. O padre, um jovem anafado e suado, pensando que eu era um cego que tinha recuperado a visão, começou a berrar: “Miracolo!! Miracolo!! Miracolo”. Eu, triste e humilhado, respondi, quase a chorar, tentando-me fazer entender: “Miracolo...no miracolo...mi..mi..”. O padre excitadissimo, levou as mãos ao peito e berrou outra vez: “Miracolo!!! Miracolooo!!!”. Eu abanei a cabeça, apontei para as calças e disse: “ Mijei-me...”. Apesar de achar que o padre não percebeu o que eu quis dizer penso que a mancha que se encontrava nas minhas calças superou a babel que nos separava.
De Milão tenho apenas a dizer as francesinhas são demasiado picantes e que aquilo é quase igual a Guimarães só que um bocadinho maior. Até têm lá uma rua coberta como queriam fazer na nossa Santo Antoine!

Otelo de Guimarães

26.5.06

NEM TUDO ESTÁ MAL EM TERRAS DE VIMARANES

Fonte: Bibliotecário Anarquista.

Se os sócios leitores da BMRB fossem tão fanáticos como os sócios espectadores do VSC:

a) Guimarães tinha a maior taxa de leitores compulsivos de Portugal.

b) Em Guimarães, mais do que se gostar de ler, gostar-se-ia de um estilo de literatura ou de um escritor.

c) A Câmara venderia a Biblioteca a um Clube de Leitores de Guimarães - provavelmente o "Leitória" - por um preço simbólico de 5 Euros.

d) O ex-presidente do Leitória admitiria que tinha uma prateleira azul com livros do Saramago e da Agustina e que desviou dois Jorge de Sena para consumo próprio.

e) Os "gunas" da nossa cidade usariam casacos a dizer RAUL BRANDÃO ou HÚMUS.

f) Cada vez que o novo livro do Lobo Antunes se atrasasse a chegar à Biblioteca, atiravam estantes ao bibliotecário.

JG

PS: Obviamente que o VSC tem mais sócios do que os apresentados neste gráfico. Mas ainda assim, é de supor que não tem tantos como a BMRB.

JOÃO QUÊ?

Caros Leitores:
Todos sabemos que a cidade vive tempos conturbados. Consciencializa-se de um trauma alcácerquibiresco e inicia, lentamente, a sua recuperação. É, pois, necessário e conveniente ser delicado na abordagem pública deste assunto.
Um dos maiores mitos da portugalidade é o fado. Tido como um estilo musical nacional, toda a gente sabe que apenas é criado em Lisboa e Coimbra - o que lhe confere uma carga folclórica regional. No resto do país, ouve-se fado. Não se faz fado. Tal como aqui em Guimarães não se criam temas de cantares alentejanos, nem em Beja se fazem viras.
Conjugados estes dois factores - o trauma citadino e o falso mito do fado como cantiga nacional - é de repudiar que ontem, no centro cultural Vila Flor, tenha havido um concerto de um fadista de Lisboa que, para além de não cantar lá muito bem, se chama João... Braga.
Carlos do Carmo Guimarães

TEMOS EQUIPA

Os responsáveis por este blog vêm aqui deixar bem claro que depois de torcermos - em primeiro lugar e fanaticamente - pela equipa Portuguesa (aka "Os Filipiços", como se referiu aqui), torceremos quase incondicionalmente por Trinidad & Tobago, por causa do seu vibrante hino "Fighter", e nada mais.
Deixamos uma menção honrosa à nossa vizinha Espanha, que é até ao momento a única seleccção que tem... um contra-hino.
Com temas assim, quem precisa de Nellys Furtados, Santos & Pescadores, Galps e Nananananas?
OdG, JG & CG

25.5.06

O PARENTESCO - DE GUIMARÃES PARA O MUNDO

Em Guimarães, uma cidade grande em ponto pequeno, dá-se muita importância à familia. Não numa prespectiva Siciliana da coisas mas numa óptica de pura e simples identificação de pessoas e clãs.
Se há coisa que pode confundir, baralhar e, depois de uma certa idade, obrigar a apoio psiquiátrico é a problemática dos graus de parentesco. O leitor mais incauto poderá julgar que é dispensável referir os referidos graus nas conversas vulgares do seu triste e rotineiro dia a dia mas tal, inevitavelmente, acontece. Isto devido a uma série de condicionantes de ordem interrogativa, interpostas por terceira pessoa (ex. Estive com o Pedro hoje! - Que Pedro? - O amigo da minha prima.). Este simples exemplo demonstra apenas uma parte do uso, e devida identificação, dos graus de parentesco no quotidiano e a maneira como estes se entranham nas conversas.
A abordagem dos graus de parentesco pode levar a que se revelem segredos, a que se instale o caos e a que se pressuponham relações incestuosas inexistentes.
Muitas vezes uma análise mais cuidada dos graus de parentesco, quando referidos em conversa corriqueira, pode levar à descoberta de segredos muito bem guardados. Devido ao mau uso da linguagem, a que a confusão sobre o parentesco leva, estes segredos revelam-se em menos de cinco segundos (dados do Instituto Nacional de Estatística). Um dos exemplos clássicos disso é a referência “ ao meio-irmão do meu filho” o que revela imediatamente a existência de outrém numa antiga ou actual relação que, supostamente, deveria ser a dois. Mais grave do que esta revelação (que pode dar apenas a conhecer aquilo que todos já sabem) é, quando na vulgar conversa de café, alguém refere “ a minha sogra…por parte da minha mulher” o que divulga de uma forma clara a existência de uma mulher ilegítima ou, pior, um caso de bigamia (o que é punível por lei) ficando ainda no ar a dúvida sobre qual das mulheres se estaria a falar. Este tipo de situações chega, frequentemente, a levar a confissões públicas involuntárias que, de uma forma geral, prejudicam não só os intervenientes mas também a comunidade onde estão inseridos.
Por vezes, ao identificarmos certas pessoas que conhecemos pelo grau de parentesco, corremos o risco de estar, de uma forma involuntária ou voluntária, a imiscuirmo-nos em correntes artísticas/literárias. Muitas correntes artísticas acabam por emergir em certas tentativas de identificar um parente. Uma das correntes que se apresenta mais frequentemente é a dadaista/surrealista que surge em expressões do tipo “ foi meu tio por afinidade”, “ é uma espécie de primo por afinidade” e que atinge o seu expoente máximo em frases do género “ ele é “tipo um irmão por afinidade” ou “ o meu pai por afinidade” (note-se que esta ultima frase só pode ter sido proferida por alguém que, muito confuso, queria dizer padrasto). Sem dúvida alguma o barroco dos graus de parentesco é o concunhado. Este laço familiar, para além de não existir na prática, visto que se pode extinguir com o divórcio de terceiros, chega a ser doentiamente rebuscado e patético.É a criação suprema de uma forçosa relação familiar alimentada, amiúde, por falsas simpatias e amizades. Este tipo de relacionamento só funcionaria numa família academicamente ideal.Para além das confusões naturais que se criam ao usar este barroco do parentesco ainda se podem gerar confusões de linguagem como dizer “Estou com (o) concunhado do Pedro” (gerando, de imediato, a dúvida se se está gago ou se se está com o marido da irmã da mulher do Pedro). A própria conjugação de con com cunhado revela algo estranho. É que se virmos bem, o cunhado, que já é alguém que entrou na família por cunha, não tem necessidade que se lhe meta uma “concunha” para criar mais uma forçosa relação.
Saindo desta tradição vimaranense termino recorrendo a um relato verídico que se está a passar na actualidade. No Japão um tal de Dr. Tanaka achou que a melhor solução para resolver um caso de infertilidade masculina, num feliz casal, seria o de recorrer à inseminação artificial. A escolha do dador de esperma recaiu, na minha opinião de forma surpreendente, no sogro da senhora que pretendia engravidar. A escolha segundo o Dr. Atsushi Tanaka não poderia ser melhor porque “se fosse um irmão o dador ele estaria sempre presente como o tio da criança e isso seria aborrecido” e que “ sendo o sogro o dador, já terá morrido há muito tempo quando a criança se tornar um adulto”. È desta perspicaz forma que o Dr. Tanaka resolve esta melindrosa questão. Genial. As questões ao nível de parentesco que se põem, caso esta solução vá para a frente, são bastante complicadas. O recém-nascido será durante pouco tempo (segundo as previsões do Dr. Tanaka) filho do homem a quem vai chamar avô e será irmão do homem a quem vai chamar pai isto sem esquecer que, para todos os efeitos, o jovem infante será sempre cunhado da sua mãe. Esta solução apresentada pelo médico japonês revela um enorme descuido pelo complicado mundo dos graus de parentesco e pelas situações dramáticas e embaraçosas que o possível ser humano irá passar quando chegar a adulto (altura em que , segundo as contas do Dr. Tanaka, terá a satisfação de ver o seu pai biológico morto).

Otelo de Guimarães

18.5.06

E JÁ VAI NO TRINTA E DOIS!!!

Só não tem é editorial...

17.5.06

VOCÊ SABIA QUE...


Este homem é (infelizmente) descendente de D. Afonso Henriques?
E que há quem afirme que o seu chapéu poderá ter sido comprado na casa Júpiter?

VOCÊ SABIA QUE...


Há quem afirme que este homem(na foto), Mahmood Ahmadi-Nejad, se desloca, regularmente, a Guimarães para arrumar carros no Jardim do Carmo?

13.5.06

A SARABANDA DA CIDADE

Granito. Imensos blocos de granito reluzentes depois das chuvas, com a chegada dos primeiros raios de sol. A pedra e a memória. O granito e a minha versão da história da minha cidade, a minha verdade sobre o que não vivi nem tão pouco li: este é um lugar de gajos com força bruta, delicadamente bruta no modo como gravam a pedra dura, no modo como abraçam o amigo, no modo como temem o Senhor, no modo como amam o lugar de onde são e tudo que lhe pertence. Este é um lugar que nasceu, parou e voltou a nascer parado, a querer que o andar para a frente seja voltar mil anos atrás. Uma cidade reluzente sem tesouros nem quimeras, uma cidade com verdades que não são monumentos e monumentos que não são verdade. Uma cidade feita de verde e de cinza.
- Eu tenho um orgulho filho da puta em ser daqui.
diz-me o professor da rua de Camões, bêbedo como se amanhã não houvesse.



– Esta cidade pode não ter poemas nem canções, mas é uma cidade filha da puta, percebes? Aqui começou esta merda de país, quer queiram quer não, e mesmo assim é uma grande cidade.
afirma ele convictamente antes de perguntar onde vamos beber o próximo fino - os próximos finos, afinal - antes de me explicar que a grande batalha até pode muito bem ter sido longe daqui mas que tal distância não importa, já que a História se encarregou de escrevê-la ali mesmo atrás do Castelo. Somos únicos, como em tantos outros lugares. Afinal, o que fica é a ciência da História, não a verdade que sabemos uns sobre os outros, se é que ela existe.
- Símbolos. Esta cidade está-se a cagar para a realidade. O que esta terra quer e precisa é de símbolos, não achas?



Metemo-nos no carro, já bem bebidos, e fomos fumar um charuto ao Pio Nono.
- Olha para esta merda. Mais uns quilómetros quadrados e até parecia Roma entre as colinas.
- O Lou Reed tinha uma música chamada Small Town.
digo-lhe entre duas baforadas.
- Eu quero que esse gajo se foda, nunca cá viveu, nunca cá veio tocar, não sabe o que é uma cidade pequena onde toda a gente se conhece, toda a gente se preocupa e toda a gente se intriga.
Olha-se a cidade dali de cima e sobressai o campo da bola, circo máximo da nossa perífrase, tal como as esculturas de Soares dos Reis e de Cutileiro. É engraçado pensar numa cidade parada entre o século catorze e o século vinte.
- O que seria esta cidade se Santiago por aqui tivesse ficado, se um rio por aqui tivesse decidido passar?



Duas da manhã de novo no centro da cidade. O Antunes todo enterrado dá o cu atrás do Castelo. Sorri e diz-nos adeus: aluno do professor, meu colega de escola. Franz Ferdinand na rádio local, coisa rara. Vamos à procura de cerveja. Dois noitibós passeiam pela Muralha, provavelmente falam de futebol, de gajas e daquilo que o Siza fez à Praça Mumadona.
- Esta cidade precisa de ser notícia, está-lhe nos genes.
insiste o professor, vidrado no descer da Muralha, como se esta acontecesse à medida do seu olhar.
- Esta cidade precisa de um poema com quatrocentos anos de idade, de uma reconstrução pombalina, de uma canção do estado novo, de uma Taça de Portugal.
digo-lhe enquanto penso em todas as hipóteses que tive em não voltar aqui.
- Já fui a muito sítio do mundo, mas é aqui que quero morrer. Ao contrário do cabrão do Afonso Henriques, eu quero chegar aqui a tempo.
- Chegar a tempo?
- Sim, o gajo queria vir morrer aqui, mas só aguentou até Coimbra e teve que finar-se lá.



Vivemos sob o signo de uma simples figura. O penúltimo grande herói da cidade foi-se embora há quase mil anos, o último era um brasileiro jogador de futebol que também zarpou para Lisboa: desde então que a cidade não tem um ícone pop, desde então que a cidade vive um luminoso crepúsculo. Talvez por isso o professor bêbedo queira morrer aqui. Não sem antes tentar ser um herói como todos nós. Perco o formalismo e começo a tratá-lo por tu. Meia hora depois estamos a falar sobre festas numa casa em Silvares, onde ambos participámos em alturas diferentes, de droga comprada em cafés de subúrbios campestres ao raiar do dia, de gratificações dadas a brigadas de trânsito em rotundas.
- I’m a loser, baby, so why don’t you kill me.
canta o professor, já cambaleante, rumo ao night club.



Quando for esperto quero falir uma fábrica. Ter dinheiro. Ir às putas a Vigo. Ser comendador. Ter um filha da puta dum carrão. Snifar coca em mesas de mármore polido. Contratar arquitectos para me fazerem casas de campo. Ser político ou dirigente desportivo. Quando for esperto quero ser um puro-sangue.
- Manda vir mais dois vodca limão.
ordena o professor interrompendo-me os sonhos.
- Não queres antes uma eslava?
pergunto-lhe eu, entorpecido por todos os vapores de uma noite demasiado longa.
- Já tenho uma amante na Póvoa.
responde ele mostrando-me uma folha de salários da fábrica de felpos onde ela trabalha.
- O que me fode é que ela não sabe escrever português, é erros atrás de erros
lamenta-se o professor, de olhar demasiado lívido.
Não aprofundo a conversa e limito-me a dizer
- Vamos à discoteca
trocando o v pelo b.



Tudo igual em todo o lado. Camisa branca, fedor a perfume, calça de ganga. Cinco da manhã e não sei como se me aguentam as sílabas. Noite plena. Só faltava dançar. Facilito e acabo por perguntar a uma falsa loira toda benzoca se gosta do último single da Madonna. Ela não percebe, fala de uma marca de alta-costura que costuma comprar, nega a proveniência das suas calças desse mesma marca e confessa que as mesmas talvez lhe estivessem melhor um número acima. Ver e ser visto, afinal. O professor diz-me sorridente que vai dar uma aula ali para os lados da universidade. Desisto de tudo, e cambaleantemente vou-me embora daquele lugar. Acabo a noite ao nascer do dia a lembrar-me dos poemas de Bob Dylan e a comer qualquer coisa no café Milenário. Minutos depois, dizem-me que o professor da rua de Camões teve um ataque cardíaco fulminante, junto ao castelo de Guimarães.


JG

10.5.06

ESTUDOS DA LINGUÍSTICA VIMARANENSE - TOMO I - O DIÁLOGO II

Sujeito 1 - Então tudo em ordem?
Sujeito 2 - É tá tudo...Ele [1] hoje está quentinho que é o que se quer!
Sujeito 1 - Ó fachabore [2] ! Tem pão integrale?
Sujeito 3 (empregado de mesa)- Ele [3] ainda havia...deixe-me ver.
Sujeito 1 -Tive hoje com aquele mocito que trabalha com a sua filha...
Sujeito 2 - Que mocito?
Sujeito 1 - Aquele alto...Chamam-lhe [4] o Abel
Sujeito 2 -Ah...
Sujeito 4 (possivelmente do sudoeste asiático)- 本文以英国的“产业大学”和 [5]


Mais uma vez a língua consegue surpreender. Em Guimarães nada é deixado ao acaso. Cada palavra tem um significado muito próprio e específico.
Nesta minha continuação dos Estudos da Linguística Vimaranense (publicada pela primeira vez em Fevereiro neste mesmo blog) voltei a ficar surpreendido com a verbosidade local.

Otelo de Guimarães


[1] Neste caso “ele” é o tempo. A importância dada ao tempo pelos vimaranenses consegue superar a que lhe era dada (a ELE) por Einstein (ainda que ELES, neste caso, sejam diferentes)

[2] Esta palavra é, geralmente, usada para tratar com respeito alguém que nos vai servir. O “Ó” que antecede a palavra “fachabore” (que aliás é uma nova palavra) exalta a necessidade de um atendimento rápido e eficiente.

[3] Só na riqueza linguística vimaranese é possível encontrar tanta diversidade. Aqui a palavra “Ele”, que ainda há escassos segundos tinha sido usada para significar tempo, passa a referir-se a um simples pão integral.

[4] A desconfiança típica dos vimaranenses encontra o seu expoente máximo neste “chamam-lhe”. Afinal quem garante, nestes tempos conturbados, a identidade de quem? Todo o cuidado é pouco e os vimaranenses sabem-no.

[5] Esta frase dita, muito provavelmente, em cantonês (ou proferida por alguêm a quem acabaram, sem anestesia, de arrancar cinco dentes) mostra que somos uma cidade cada vez mais cosmopolita. Frases deste tipo podem ser ouvidas com mais frequência em Calvos, a Chinatown vimaranense.

8.5.06

VSC 2006-2007 ALGUMAS PROPOSTAS. 1 - O EMBLEMA

INDELÉVEL COROLÁRIO HISTÓRICO

Se lá em cima estarão sempre
Jesus, Costeado, Miguel, Néné, Nascimento, Roldão, Basaúla, N’Dinga, Paulinho Cascavel, Adão e Ademir,
isto para não falar nos suplentes e outros menos utilizados, e sem referir que os treinadores serão Marinho Peres Ulibari e Paulo Autuori de Mello,
então cá em baixo estarão sempre
Nilson, Vítor Moreno, Geromel, Moreno, Cléber, Octacílio, Svard, Manoel, Benachour, Tiago Targino e Saganowsky,
Isto para não falar nos suplentes e outros menos utilizados e sem referir que o treinador será Vitor Pacheco e/ou Jaime Pontes.

4.5.06

BELEZA ROUBADA

Como até o mais incauto dos leitores terá reparado, esta cidade vive uma semana de grande tensão, como há muito se não vê. Os semblantes andam carregados, os olhares lívidos e perdidos. Deve-se tal fenómeno ao óbvio, demasiado óbvio, descalabro futebolístico em que mergulhou o Vitória. Eu próprio, supra-sumo da racionalidade, não me coibí de ir a um treino insultar o plantel, o treinador, a direcção e a polícia municipal por razões de solidariedade e cidadania, bem como fui um dos que rondou – na vã esperança de estar a fazer uma ronda dos milagres – a casa de um profissional de futebol da equipa de todos nós.
Ora, qualquer tipo de tensão demanda o correspondente alívio. Foi, pois, com naturalidade que me dirigi à mais bela praça de Portugal, a Oliveira, para beber um whisky com duas pedras de gelo e relaxar, viajando pela internet mediante o serviço wi-fi que ali é oferecido por certa entidade. Como faço parte de uma vasta maioria que, por ordem da genética nasceu dextra e heterossexual, decidi que o meu relaxe iria consistir na contemplação observação contemplativa de páginas que glorificam e endeusam a magia encantatória de belos corpos femininos desnudados. Qual não é o meu espanto quando não consigo aceder a nenhuma das páginas mencionadas acima. Melhor dizendo, quando descubro que estou proibído de aceder a sítios de conteúdo erótico-pornográfico. O mal estar apoderou-se de mim, catapultando a minha necessidade de relaxe para uma exponencialmente perigosa tensão, mergulhando-me num lamaçal de dúvidas prementes: com que direito é que a entidade que fornece este serviço me proíbe de navegar livremente na rede? Com que direito é que a mesma entidade me veda a conjugação da beleza da praça da Oliveira com a beleza curvilínia de uma Charlize Theron? Quer dizer, naquela Praça crivada de beleza e erotismo um tanto ou quanto boçal (veja-se o mítico auto-fellatio), aceder um sítio onde se destila ódio sobre credos ou raças é possível; aceder a páginas onde se explica como fazer um cocktail de molotov – ou até napalm – é perfeitamente viável. Contudo, apreciar, contemplando, um corpo desnudado bem fotografado já não. Eis, caros leitores, aquilo que considero ser um atentado à liberdade estética e um grave condicionamento à conjugação de patrimónios.
Jacques Guimarães

3.5.06

ASSEMBLEIA MUNICIPAL

Na passada sexta-feira dirigi-me, de livre e espontânea vontade, à Assembleia Municipal. Levava comigo a minha condição vimaranense, um fato preto, uma gravata cinzenta e um belíssimo alfinete de gravata que me foi oferecido pelo meu bisavô, Prometeu de Guimarães.
Ao chegar lá sentei-me calmamente. O meu corpo transpirava cidadania e municipalidade.
As intervenções começaram e algo fez terminar o sonho municipal. Começou, não me recordo a que propósito, uma acesa discussão entre um deputado do PSD e um deputado do PS. Estaria tudo dentro da normalidade se estes senhores estivessem a discutir assuntos do município. Em vez disso presentearam o auditório com um remake (de terceira categoria) do debate que teve lugar, na passada quinta-feira, na Assembleia da República. Falou-se do relatório A, B, C, D e E e até, se a memória não me falha, um dos deputados contou, exagerando, o número de vezes que o seu adversário tinha repetido, na sua anterior intervenção, a palavra “estupefacto”. Para alívio dos presentes e para bem do município, o deputado do PSD só tinha dito estupefacto duas vezes e não quatro como, alegadamente, tinha referido o deputado do PS.
Tive que tomar, de imediato, uma pastilha para o enjoo. Muitos devem, neste momento, achar que tudo não passa de um exagero da minha parte e que não há razões para tanto mal estar. Mas, meus bravos leitores, há de facto razões para a minha indignação. Não é, concerteza, na AR que se vai discutir a deslocalização de uma escola de Ronfe, como referiu na AM uma deputada da CDU. E não será, certamente, na Assembleia da República que se irá falar dos problemas da juventude vimaranense, que foram, na Assembleia Municipal, abordados por um jovem deputado do PSD.
Todos sabemos que o estado da Nação é importante para os Municípios. Contudo, penso que não será a Assembleia Municipal o local mais apropriado para debater os problemas do país.
Já que os dois deputados municipais em questão ocupam cargos importantes na capital sugiro, desde já, três locais adequados para este tipo de debates: 1º- Assembleia da República (o mais indicado), 2º- Pavilhão Chinês (situa-se no Principe Real e será o local ideal para conversarem sobre os assuntos do país num ambiente intimista) e 3º- Café Trevo ( fica no Largo do Chiado, é meio chunga e ninguém se importará se começarem aos berros) .
Desde já peço desculpa se omiti ou se me enganei em algum detalhe mas, como já referi, devido ao engulho sentido, tive que abandonar prematuramente o auditório onde decorria a Assembleia Municipal.

Otelo de Guimarães

2.5.06

VSC 2006-2007 - BOATOS PARA O FUTURO

A primeira medida para o próximo ano poderá ser a criação do GAPAV (Gabinete de Apoio Psiquiátrico ao Adepto Vitoriano). Uma equipa de onze psiquiatras vai estar à disposição de todos os sócios que necessitem de ajuda para superar o trauma que se avizinha. As consultas são gratuitas, desde que as quotas estejam em dia.

DESABAFOS DO VITORIANO DESILUDIDO

Se o Vitória fosse um corpo humano, a única parte sua que ainda flutuaria na primeira liga seria a unha do dedo mindinho do pé direito. Como é sabido, tal unha, para além de ser muito pequena, é também muito teimosa. Veja-se a quantidade de vezes que encrava. É isso que esperamos que aconteça na última jornada. Tal como esperamos ganhar o euromilhões todas as sextas e comprar o Vitóra todos os sábados e vê-lo ganhar todos os domingos.
JG

4800 TOPS - OS TRÊS PIORES TREINADORES DO VSC NOS ÚLTIMOS VINTE ANOS

1 - Vítor Pontes
2 - Dr. Geninho
3 - Álvaro Magalhães

FALSAS LENDAS E COSTUMES DE GUIMARÃES - O ARCO PROIBÍDO II *

Reza a lenda que uma das pedras do Domus Municipalis tem a seguinte inscrição: "Qvisnam arcvs domvs mvnicipalis laevvs levvs ambvlare, avto fellatio vir ab torrem oliveira ecclesia liberare et locvs svvm vsvrpare".

* Adaptação de um comentário deixado no post anterior