29.1.07

GMR JE T'AIME

À conversa com um amigo, natural de Vigo, este diz-me ter ficado maravilhado com o filme que o Cineclube transmitiu no passado domingo, Paris Je T'Aime, que eu não vi por andar em voltas pensativas. Explica-me que é um filme com dezoito histórias, sendo cada uma dedicada a um lugar da cidade. Assim temos a história de Montmartre, a da Madeleine e a do Quais de Seine e por aí fora. Confesso que a estrutura do filme me deixou quase tão pensativo como a minha volta dominical nocturna. Não, não vou aqui falar da necessidade de Guimarães ser dividida - como já foim a 4 de Abril de 1807 - em arrondissements (ou bairros) e da mística que isso teria na nossa cidade (tanta como a criação de um red light district). Antes me debruço sobre a necessidade urgente de um Guimarães Je T'Aime: já viram o que seria um filme com dezoito histórias, sendo cada uma dedicada a um lugar da cidade? Assim, teríamos histórias dedicadas ao Sardoal, a Trás de Gaia, às Lameiras, ao Toural, à Quintã, à Amorosa, a Cães de Pedra, ao Tarrafal, ao Planeta e por aí fora. Até já estou a ver a crítica: "é uma belíssima declaração de amor a Guimarães"; " a cidade filmada em todo o seu esplendor"; já vejo o velho Otelo a dizer, com a sua voz macerada por litros e litros de whisky, "é um filme do c****ho". Para a realização, lembrei-me de uma velha conhecida minha, a Sofia Coppola que (pasmem-se mas é mesmo verdade) quis filmar o Lost In Translation em Guimarães, a ser passado no Hotel Fundador. Contudo, quando a informei que o dito hotel não tinha piscina (essencial para a filmagem de algumas cenas do filme), decidiu-se por um hotel em Tóquio. Não lhe perdoei o exagero e desde então que só comunicamos por sms's. Bem, com isto tudo, já me perdi.
JG

NOVA MONUMENTALIDADE VIMARANENSE

Passeava eu peripateticamente de mãos atrás da barriga pelas frias e desertas ruas de domingo à noite na cidade quando, ao avistar a formosura da rotunda cimeira da Avenida D. João IV, me apercebi de uma terrível lacuna na monumentária da nossa cidade.
Como é do conhecimento sensorialmente comum, a monumentalidade é uma das condições inerente ao ser-se monumento. Assim, é normal que uma significativa parte dos monumentos sejam monumentais. Lapalissada, certo.
Contudo, Guimarães excepciona-se neste aspecto, à excepção dos seus monumentais Neo-Paço, Castelo e Salado. Tudo o resto, com a evidente harmonia, simbolismo e qualidade, são monumentinhos. Nada contra, certo.
Todavia, se visitarmos, por essa Europa fora, cidades de grandeza equivalente à nossa como Berlim, Barcelona, Paris, Atenas, Roma, Milão, Verona, Bucareste, Istambul e Londres, facilmente verificamos que todas elas têm algo muito monumental que falta a Guimarães.
Não falo de uma circular decente, mas sim, como todos já deduziram, de um arco do triunfo: um arco que, de uma forma monumental (para quem nunca viu, os arcos do triunfo costumam ser enormes), assinala algo (por regra uma batalha ou uma conquista qualquer) que passa a ser altamente significativo mesmo que a História o não confirme ou desminta. Nesta altura, o estimado/a leitor/a já estará a cogitar por alíneas no mesmo que eu, quando ontem à noite parei pasmado naquela rotunda:
a) Guimarães tem todos e mais alguns requisitos para ter um arco do triunfo;
b) Guimarães já devia ter um arco do triunfo desde 25 de Junho de 1128;
c) O arco da casa homónima não conta para estes efeitos;
d) Guimarães merece ter um arco do triunfo gigante, vulgo, “arcalhão”, de acordo com a sua História e seu Ego;
e) Agora que aí vem 2012, há guito para uma ou duas despesas consideráveis que aumentem a autoestima dos nossos cidadãos e que preencham a quota de "obra simbólica" (sobretudo se o arco tiver um museu, centro de arte ou anfiteatro);
f) Se não houver guito, algum construtor civil, a troco de poder instalar um shopping no rés do chão do arco, há-de se chegar à frente com o dito carcanhol;
g) A rotunda do alto da D. João IV é o lugar ideal para albergar um arco enorme, vulgo, “arcalhão”.
É tempo, pois, de pensar seriamente nesta Nova Monumentalidade Vimaranense do Século XXI (já que do XX só vale o Paço) e de a inaugurar, precisamente, com a edificação do Monumental Arco do Triunfo da Batalha de S. Mamede ou lá como lhe quiserem chamar.
A quem de direito: vamos a isso ou é preciso fazer uma petição?

Jacques Guimarães

28.1.07

SOLIDARIEDADE

Hoje passei de carro junto aos bombeiros e vi uma fila enorme. De imediato perguntei a um amigo que seguia comigo:
- Oube lá, que se passa ali home?
- São pessoas que estão a fazer uma recolha de sangue para ver se têm uma medula compatível com a de um menino de 6 anos que está doente…São pessoas que estão ali para o tentarem ajudar.
Só posso dizer que esse momento me fez ficar imensamente orgulhoso de Guimarães, das suas gentes e de todos os que ali apareceram dispostos a ajudar!

O.G.

25.1.07

VÁ PARA FORA CÁ MINHO

Um destes dias que passou tal como os outros antes dele passaram, tive a oportunidade de fazer uma constatação. Isto é: constatei algo.
Brilhante – diriam alguns. Calma, digo eu.
Constatei que, era facilmente constatável que Guimarães era a cidade mais genuína do Minho e, como tal, a cidade mais portuguesa desta região. A minha afirmação, aparentemente leviana, baseia-se no facto de quase todos os concelhos minhotos terem, no seu seio, localidades com nomes estrangeiros ou que podem ser lidos com sotaque “de fora”. Existem, no nosso verde Minho, algumas terras onde qualquer estrangeiro se poderia sentir em casa. Isto porque estas terras ostentam nomes que de portugueses nada têm.
Analisemos alguns casos:

- Em Famalicão deparamo-nos com dois casos de flagrante estrangeirismo. Um é a muito inglesa Nine. O outro é a afrancesada Labruge. Esta ultima localidade, para além de aparecer sublinhada a vermelho no Word, é de facto a jóia francesa do Minho. Se qualquer um de nós disser que foi passar férias a Labruge todos vão pensar numa cidadezinha da Côte D’Azur e não num lugarejo perto de Famalicão. Outro caso famalicense é o de Mogege (outra palavra que, tal como Cote, Azur e Labruge, dá erro no Word). Haverá alguma palavra que se pronuncie de modo mais afrancesado? Se há não o sabemos. Famalicão parece ser um concelho pródigo neste tipo de situações. Para além das já referidas freguesias ainda temos o caso de Brufe (outra palavra que…vocês já sabem o resto). Tão cândida, tão francesa. Simplesmente…Brufe!

- De Viana do Castelo também há algo a dizer. Para além das muito francesas Perre e Chafé temos dois casos paradigmáticos: Deocriste e Darque. Se quanto à primeira não posso dizer nada por temor a Deus e por ignorância (não sei o que a palavra significa, calculo mas não sei), quanto à segunda posso dizer que se trata de um erro ortográfico. Este nome só existe em Inglês e escreve-se “dark”.

- Vieira do Minho, uma cidade que tinha por obrigação ser inteiramente minhota, brinda-nos com a sua francesa: Anissó. Nada a dizer.

- Braga, a cidade dos arcebispos, a Roma portuguesa apresenta-nos um dos casos mais insólitos da nomenclatura de localidades e freguesias. Não falo de Navarra, uma pequena freguesia cujo o nome diz tudo. Falo de Mazagão. A muito portuguesa freguesia de Aveleda (em Braga) esconde no seu interior Mazagão. Este pequeno lugar ostenta de uma forma vil o nome de uma antiga possessão portuguesa em…Marrocos. Acho que não devo dizer mais nada para não ferir susceptibilidades. Devo apenas referir que nesta pacata localidade marroquina (isto é: na sua possessão em Braga) funciona uma escola de cabeleireiros de índole obscurantista.

Neste nosso Minho há, de certeza, mais casos deste tipo. Felizmente Guimarães não ostenta nenhum.

Otelo de Guimarães

23.1.07

MEMÓRIAS MARTIANAS V

No meu privilegiado convívio com Martinho Marto tive o prazer de conhecer, pela primeira vez, coisas que antes do supracitado convívio simplesmente não conhecia. Daí talvez o facto de as ter ficado a conhecer pela primeira vez…Mas esta é uma questão minha, puramente filosófica e com a qual não quero aborrecer os leitores.
Certo dia caminhava junto à praia com o meu Mestre, ele olhava fixamente o mar e nada dizia. O que para muitos seria uma seca para mim era um momento soberbo de contemplação. Era ver um dos maiores pensadores do século XX em acção. Estivemos assim durante horas… Curiosamente nesse dia nada de novo me foi dito.
Oito dias depois, durante um jogo de futebol em que o VSC perdia 0-2, Marto perguntou-me com um ar jocoso:
-Sabes quantos meses têm o ano?
- Doze! – respondi confiante.
- Enganas-te. O ano para mim tem nove meses. Não é esse o tempo que passamos no ventre materno?
- Lá isso é…Só que a mim sempre me ensinaram que o ano tem…
- Cala-te! Se queres ser meu discípulo tens que seguir o meu calendário: o calendário gestacional. E olha que só tens vantagens: vives mais tempo, fazes anos mais vezes, etc.
Após esta discussão algo violenta ainda tentei fazer algumas perguntas. Inquietava-me o facto de ter nascido precocemente, com apenas sete meses. Quais seriam as minhas contas? Qual seria o meu calendário? Será que me deveria reger pelos nove meses padrão? Ou deveria ter-me como o centro do Universo e usar os meus sete meses como forma de contagem?
No momento em que enchi o peito de ar e ganhei coragem para fazer todas estas perguntas que enublavam o meu espírito, coração, baço e mente o Vitória sofria o seu terceiro golo.
Naturalmente a conversa tinha morrido. Bem como o jogo.
Mais uma vez aprendi algo de totalmente novo com o Mestre. E se fiquei com dúvidas, em relação a esta nova forma de vida e de calendarização que Marto me mostrou, foi por minha culpa, burrice e cobardia.

Otelo de Guimarães

19.1.07

AINDA A TOPONÍMIA

Logo que Jacques Guimarães engoliu em seco, emborquei mais um bagaço e a conversa prosseguiu: “... de maneira que… (pausa longa) … a toponímia vimaranense é assaz curiosa, meu caro…” alvitrei eu.

Como assim, Júlio?” indagou Jacques, enquanto encomendava umas punhetinhas de bacalhau.

Desde logo, usa-se a abusa-se dos títulos, sejam eles académicos ou outros. Ele é o Dr. (João Antunes Guimarães), Professor (Abel Salazar), Comendador (Joaquim S. Oliveira), Comandante (José Luís de Pina), Almirante (Sousa Ventura), Capitão (Alfredo Guimarães), General (Humberto Delgado), Padre (Gaspar Roriz), Cónego (Gaspar Estaço), Abade (de Tagilde) etc, etc… Dávamos um bom exemplo ao país se os erradicássemos da nossa toponímia… Olha, vou mas é beber mais um bagacito, pois tenho a garganta enfarinhada com tanto título…

Jacques, tentando tirar uma espinha encravada entre dois dentes, não parecia convencido: “Isso está tudo muito bem, mas pelo menos a história dos títulos sempre vai tendo um mérito. Por exemplo: como distinguir a Rua Eduardo de Almeida da Dr. Eduardo de Almeida se o dê-erre lá não estiver? E a Rua Alfredo Guimarães da Capitão Alfredo Guimarães?

Bom, quanto à Rua do Hotel de Guimarães a questão já se não põe. Chama-se agora Eduardo Manuel de Almeida. Já quanto aos Alfredos, diria, citando Agostinho Barbosa, que agora é que me quilhaste. Mas há outra coisa que também me faz espécie.

Sendo?

A incoerência desses ditos títulos na toponímia. Como disse um dia Mumadona Dias, ou há moral, ou comem todos! Porque é que há licenciados que têm direito ao Dr. e outros não? Por exemplo, os manos Alberto e José Sampaio, que nasceram do mesmo ventre materno, cujas ruas nascem também no mesmo ponto da nossa cidade e que têm a mesma formação académica: porque raios é que só ao Zé é que lhe chaparam com o Dê erre? Não está certo. Com tanta incoerência só falta mesmo é encontrar uma Rua de alguém com o dê erre e sem o canudo.”

"Rua não temos, caríssimo, mas sempre temos um complexo desportivo." rematou Jacques, ao que soltámos sonoras e alarves gargalhadas que ecoaram pelas ruas da nossa cidade.
JbG

ERRO DE CASTING

... OU SOME GIRLS ARE BIGGER THAN OTHERS* 2

Clara de Sousa abandona a SIC. Pretende dar novo rumo à sua carreira e abraçar um projecto de Televisão Regional. Ouve falar da GMR TV. Sabe que Guimarães é, provavelmente, a segunda melhor cidade para se viver em Portugal. Envia curriculum para a GMR TV, explicando que está disposta a receber pouco mais do que o salário mínimo nacional. A resposta chega cedo e é taxativa: Clara de Sousa, você está EXCLUÍDA da GMR TV.
Para não dizer pior, fico-me por um dúbio "ridículo, não?"
JG

*Some girls mothers are bigger than other girls mothers.

18.1.07

SOME GIRLS ARE BIGGER THAN OTHERS*

Cristiana e Carina: 23 e 26 anos respectivamente, terminaram ambas o curso superior de comunicação social com média de 18 valores. Fizeram o secundário em Guimarães. São modelos nas horas vagas. E das muito requisitadas. Sonham em fazer televisão. As duas naturais de Santo Tirso e residentes em Riba d'Ave. Estão EXCLUÍDAS da GMR TV.
JG
*Some girls mothers are bigger than other girls mothers.

16.1.07

RUAS DA TRAIÇÃO

Diz-me Júlio Braga Guimarães, entre um pires de moelas e um bagaço com duas colheres de mel:
- Existem duas ruas nesta urbe que têm nomes de opositores à independência portuguesa.
Digo-lhe eu, enquanto mastigava uma fatia de arenque fumado:
- Quais são essas ruas que têm nomes de vis traidores ao nobre ideal de um Portugal independente e livre do jugo 'Nhol?
Diz-me Júlio Braga Guimarães, entre um pires de moelas e um bagaço com duas colheres de mel:
- Rua Dona Teresa e a Rua Agostinho Barbosa.
Digo-lhe eu, enquanto acabava de mastigar a fatia de arenque fumado que referi há pouco:
- Se sobre essa senhora nada tenho a questionar, já o mesmo não o faço ante Agostinho Barbosa. Quem foi ele, Júlio?
Diz-me Júlio Braga Guimarães, entre um pires de moelas e um bagaço com duas colheres de mel:
- Foi um traidor que chegou a bispo do Reino de Nápoles. Jurisconsulto nascido em Guimarães a 17 de Setembro de 1590, escreveu, entre outras obras, o grande Diccionarium Lusitanum-Latinum, publicado em Braga. Na edição que tenho em casa, não me contive e rasurei o Braga. Perdi centenas de contos, mas ganhei dignidade concelhia. Dizia-te que Agostinho Barbosa - de quem os Barbosas da Atouguia e os Vaz da Costa de Silvares ainda são primos - escreveu também as lendárias Remissões ao Concílio de Trento, das quais tentei fazer uma versão em banda desenhada aqui há uns anos. Porém esse homem é um traidor à independência portuguesa. É que quando rebentou a revolução de 1640, por não ser afecto à casa de Bragança, deu de frosques para Roma. Uns anos mais tarde, vê lá tu a vergonha, chegou a Bispo de Ughento, no Reino de Nápoles. Oh ignomínia, quando a nossa cidade lhes dá nome de rua e deixa o Lobo a uivar. [O discurso de JBG é assim, com link e tudo]
Engolida a fatia de arenque fumado, engoli em seco. Tinha aprendido mais uma grande lição com o meu Amigo Júlio Braga Guimarães.
JG

15.1.07

APOSTA

Aposto, singelo contra dobrado, como Guimarães em hora de ponta tem, proporcionalmente, mais trânsito que Los Angeles.

Otelo de Guimarães

14.1.07

SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DA PICHAGEM VIMARANENSE


Localização: Avenida Conde Margaride

O.G.

11.1.07

FOMOS ROUBADOS

Eu quando trato de assuntos sérios não brinco. Mas só falo por mim. A julgar pelo que li hoje no Guimarãesdigital há quem ocupe um cargo sério e brinque com coisas ainda mais sérias do que o cargo que ocupa.
Pelos vistos uma directora do IPPAR (direcção regional do norte) afirmou que a capela de S. Miguel não tinha alarme. Até aqui a novidade não é grande. Todos sabemos que a capela foi recentemente assaltada e que um dos motivos para este triste facto deve-se precisamente ao facto de a dita capela não ter alarme nem vigilância. O que poderá dar vontade de rir é o facto de a senhora directora ter dito que “ [apesar da capela não ter alarme] esta é uma questão que não está descurada”.
A única explicação para esta afirmação é um provérbio que diz: “ Casa roubada trancas à porta”. Ou é o facto de a excelentíssima directora querer dar aos vimaranenses o consolo que é termos, de agora em diante, a garantia que ninguém volta a entrar na capela para roubar, por exemplo, uma pia baptismal de 1 tonelada.
Faço notar aos responsáveis (pela segurança e manutenção do nosso património) que em Guimarães existem mais locais em que a “questão” também não está descurada. Isto é: locais sem alarme, sem vigilância e…ah, com peças de valor no seu interior.
Não refiro os locais por razões que a razão desconhece: de segurança!

Otelo de Guimarães

TUGGIES

Desde que vi o meu colega de escola primária Tininho ser colhido por um dos majestosos autocarros verdes de marca Mercedes, que sempre circularam pela nossa cidade, desde então, dizia, que nutro um especial fascino por tais veículos automóveis.
Sempre os achei bonitos, quase imperais. A verdade é que os autocarros de Guimarães sempre foram uma espécie de táxis invertidos, no sentido em que têm o tejadilho de uma cor diferente da restante carroçaria (embora, ao contrário dos táxis, neste caso o verde está na parte de baixo) (ah, é verdade, e o branco é preto – detalhes).
Bom, a verdade é que, embora sejam “cinzentões” os nossos autocarros têm uma certa pinta, quanto mais não seja por serem manifestamente diferentes dos autocarros das demais cidades portuguesas (veja-se por ex. Lisboa – combinação de amarelo torrado com traço verde escuro; Porto – branco com barra azul e traço laranja; Coimbra – misto de branco e amarelo pontuado por um roxo de extremo mau gosto; Arcebispado – branco com barra azul;) e todas as cidades europeias com a excepção da germânica Fulda (onde, pasme-se, os autocarros são exactamente iguais aos nossos).
Nos últimos dias tenho visto alguns autocarros diferentes. Pensei para comigo mesmo que talvez fossem diferentes por qualquer razão de circunstância, por exemplo por terem sido comprados nalgum leilão de autocarros de uma qualquer empresa falida e tenham por isso sido pintados à pressa. Fiquei, portanto, descansado com este hipotético-eventual cenário.
Isto até ontem à noite, altura em que o meu descanso acabou. Tinha acabado de sair da cervejaria Martins, onde me dirigi a fim de beber uns vinte e dois finos, quando, já cá fora e em pleno Toural sou abordado por um amigo de longa data. Infelizmente, e talvez fruto do passar dos anos e de uma vida de alguns excessos – que conto relatar em momento oportuno - esse meu amigo anda completamente enlouquecido. Pois bem, fruto desta sua loucura, começou a gritar em altos berros que eu lhe devia dinheiro, muito dinheiro. Alarmado e aviltado com tamanha infâmia protestei: “Deves-me estar a confundir com o Jaques Guimarães! Seu Biltre”. Bem, a partir deste momento a conversa tornou-se mais fluida e já depois de termos varrido os vidros da montra da casa Marinho – que acidentalmente se partiram durante a “conversa” – fui abordado pelo próprio Marinho (Sr.) que me disse “Ò Charles, depois passa cá para vires pagar o vidro e duas Penthouse que cá deves”. Apressei-me a sair daquele local (como naturalmente compreenderão – os vidros partidos são um perigo) e enfiei-me instintivamente no primeiro autocarro que passou. Numa primeira fase pensei que estava metido numa carreira para Leitões. Depois, mais tarde e mais calmo perguntei ao motorista “Ouça lá, isto vai para onde?” respondeu ele “vai andar a fazer o percurso que faz todos os dias até ao fim do turno, posto o que irá para a recolha”. Enigmático. Bem, à hora da recolha saí, por fim, do dito veículo e deparei com as letras garrafais que este trazia nas “fachadas” laterais TUG. Perguntei enfim se aquilo era “mesmo” um autocarro, responderam-me que sim e que agora iam todos ser assim. Fiquei abismado. Apenas consegui balbuciar, tremendo, "mas são iguais aos da Arriva, o que os torna quase de impossível distinção, esvanecendo-se, destarte, a diferenciação entre urbano e não-urbano, entre autocarro e carreira, entre cidade e campo". E, pior do que isso, são feios e desinteressantes estes novos poluidores rolantes!
Haja bom senso, haja decência, pague-se um lauto jantar a um designer que de certeza que a coisa corre melhor.
Charles of Guimarães

10.1.07

TVIMARANENSE

Não me interessa como está hoje a segunda circular de Lesboa. Quero saber como flui o trânsito em Fermentões. Lamento a ameaça de queda de um prédio na rua Ferreira Borges, em Lesboa, e o directo de meia hora que se lhe sucede. Lamento não ter qualquer informação actualizada sobre a ameaça de queda de um prédio na rua de Santo António. Estou cansado e farto de mais um documentário sobre as ruas de Lesboa, sobre a luz de Lesboa, sobre os marginais de Lesboa, e outro sobre Alfama e os seus queridos miradouros e vistas sobre Lesboa. Quero um documentário sobre a condição operária no concelho de Guimarães, outro sobre a judiaria em Guimarães, outro, em estilo policial, sobre o cordão de ouro gamado do museu Alberto Sampaio no verão quente. Estou-me marimbando para as marchas dos santinhos da capital. Mas quero ver em directo as Gualterianas. Quero assistir a um debate A. Magalhães vs R. V. Costa. e ir para o Café Lopes debater quem esteve melhor.

Caros concidadãos: as televisões regionais já deviam existir há anos. Qualquer um de nós fica a saber mais sobre o Norte vendo a TV Galicia do que vendo a SIC. Venha daí a GMR TV mas - e é um mas muito grande - sem a mediocridade do resto da comunicação social do concelho; mas - e é um mas muito grande - sem o dedo do poder; mas - e é um mas muito grande - com aquela mística do filmezinho light erotic ao cair da noite que caracterizou as saudosas TV Covas e TV Cidade Berço.

JG

9.1.07

MANIFESTO

Um bom comissário de uma Capital Europeia da Cultura deve ser alguém que, sendo um conhecedor dos valores da cidade capitalizada, carregue em si a centelha do pluralismo e universalismo cultural. E mais do que isso: que seja, ele próprio, um símbolo desses valores, aliado à condição de símbolo da cidade capitalizada. Uma análise justa, honesta e verdadeira a estes requisitos, conduz-nos a um homem: Paulinho Cascavel. Cidadão do mundo, é o vimaranense mais popular e representativo da vimaranensidade, dentro e fora da cidade. É por isso que dizemos, a viva voz

8.1.07

JACQUES E AS CIDADES

Publicou o Expresso, no passado sábado, um artigo sobre as melhores cidades para se viver em Portugal. Naturalmente, Guimarães ocupa o segundo lugar. Vamos a "considerandos e considerados", não sendo estes mais do que pequenas variações sobre este texto, que já diz tudo que é essencial dizer sobre o estudo em questão.
Em primeiro lugar, considerando que o Expresso é um jornal de Lisboa, é perfeitamente natural que tenha colocado a sua cidade no primeiro posto. Da mesma forma, Guimarães seria a primeira classificada se o estudo fosse feito pelo jornalista do Expresso do Ave.
Em segundo lugar, uma consideração sobre a classificação das cidades que nutrem por Guimarães uma inveja histórica inexplicável e parola (falo, obviamente, da Amadora, do Arcebispado e de Coimbra, Capitais Nacionais do Betão Armado): para elas, este estudo tem tão pouco interesse como para nós tem muitíssimo. Fica o consolo de encontrarem refúgio no argumento "isto é um estudo jornalístico e não científico". Ou, caso os respectivos edis assim o entendam, poderão sempre impugnar os resultados, criar o caso Expresso e reduzir o número de cidades a incluir no estudo.
Finalmente, urge tecer um "considerando" sobre o artigo que ilustra o segundo lugar da cidade de Guimarães. Paradoxalmente, quem o lê não fica com a ideia que este é o segundo melhor sítio para se viver em Portugal: antes pode sentir um certo medo (mais jornalístico que científico) de visitar ou de viver a cidade. Fala-se do bairrismo bacoco, das ameaças de porrada ao contador de história Saraiva, das Igrejas e das missas e dos cartazes do não ao aborto como se a sua existência fosse um exclusivo da nossa cidade e algo raríssimo na primeira classificada, como se da sua existência se pudesse deduzir o conservadorismo e a pequenez dos burgos. Do imenso cosmopolitanismo em que estamos mergulhados, referência apenas às clássicas e habituais comparações a Siena e ao cartaz com a programação do Cineclube. Ficam de fora estes dois blogues, a excelência do Cor de Tangerina, o temor de um sábado à noite na Praça de Santiago, o melting pot multicultural digno de um bairro de Barcelona que é o Centro Comercial Palmeiras, os grafitti da estação de Covas, o cenário goth-industrial da zona de Couros, o Laboratório das Artes, etc. e tal.
Enfim, se o artigo sobre Lisboa termina com elogios à sua luz única, o de Guimarães termina com elogios ao CCVF. Nem uma palavra sobre a luminosidade poética do granito, quando iluminado pelo sol que aparece depois das chuvas. Posto isto, está tudo dito.
Jacques "Silver Medal" Guimarães.

7.1.07

O POVO ESCOLHIDO

Como toda a gente sabe os vimaranenses estão para Portugal como os Judeus estão para o Mundo. Isto é: somos o “povo escolhido”.
Todo o português que sinta Portugal como um país, como uma nação, gostaria de ter nascido em Guimarães ou pelo menos ser filho adoptivo desta terra. Vejamos a seguinte situação: um português está no estrangeiro e é natural de uma cidade escolhida aleatoriamente, digamos Vizela. Perguntam-lhe de onde ele é e, este, tendo um QI aceitável, vai tentar identificar a região de onde é natural (Minho) acabando por ir desembocar naturalmente no Porto. A reacção do estrangeiro será um “oh”,cheio de um falso entusiasmo por estar a falar com um português que, ao que lhe parece, será de um subúrbio manhoso da cidade do Porto. Se um português for de Guimarães poderá responder à mesma pergunta dizendo que é do norte de Portugal, da cidade que um dia fez nascer um país. A reacção de um inglês seria um entusiasta “lovely!” e a de um francês seria um explosivo “super!”. Nunca, portanto, um “oh”.
Ser de Guimarães é ter culpa de Portugal existir.
É com base neste sentimento de culpa que o vimaranense é, à sua maneira, especial. Quando alguém está de consciência pesada não consegue dormir, não consegue trabalhar e, muitas vezes, não consegue viver.
E esta culpa, que Guimarães sente, é igual à que um pai tem quando educa mal um filho. Não há nada a fazer a não ser esconder a vergonha. Tentar remediar a situação parece ser uma missão impossível. A única coisa a fazer é tentar arranjar um subterfúgio para tentar fugir ao embaraço causado pelo dito filho.
Os vimaranenses escudam-se num bairrismo acentuado para escapar à sua triste situação de pai irresponsável ou de mãe ausente (a ordem destes factores é comutativa). No fundo tentam dar o exemplo de uma conduta a seguir. De um caminho a percorrer. De um orgulho que Portugal perdeu, ou talvez nunca tenha tido.
Como seres privilegiados que somos há, um pouco por todo o país, um ódio a Guimarães e aos vimaranenses.
E cada vez que um vimaranense passa, com desprendimento, pelo seu Unescal centro histórico o ódio aumenta.

Otelo de Guimarães

4.1.07

ESTE HOMEM


Este Homem mudou a cidade de Guimarães. Rasgou horizontes, abriu mentalidades. Com a sua obra, engenho e arte recolocou Guimarães no mapa. De Praga a Lisboa, este Homem mostrou a vontade indómita do vimaranensismo. Este Homem merecia uma estátua. O corte de cabelo à foda-se deste Homem influenciou gerações de vimaranenses. Graças a este Homem, muitos jovens usaram bigode antes dos dezoito anos. E cortes de cabelo à foda-se. O fiat uno preto deste Homem devia estar exposto. O apartamento deste Homem na Quintã devia ser Casa-Museu. A camisola número nove deste Homem não devia ser vestida por mais ninguém. Este Homem é o primeiro ícone pop de Guimarães. Este Homem é o vimaranense mais importante da década de oitenta. Este homem é mais bonito que o Largo de João Franco. Este Homem é um Centro de Arte Moderna. Este Homem é um Senhor. Este Homem devia ser o Senhor Comissário de Guimarães 2012: Paulo Roberto Vacinello, aka PAULINHO CASCAVEL.


Guarda redes para um lado, bola para o outro: eis o "vai buscá-la", um clássico Cascaveliano.