28.2.06

A QUESTÃO LINGUÍSTICA

A propósito dos meus “Estudos da Linguística Vimaranense” um atento leitor colocou uma interessante questão: “alguém me sabe dizer como é que se escreve o nome que os vimaranenses dão aos matraquilhos? Perseverico? Preseveriso? Pseverico? Pçeberico?”.
Passei vários dias a pesquisar e não consegui responder a esta pertinente questão. Ajudem-me deixando a vossa opinião ou certeza na caixa de comentários

Otelo de Guimarães

23.2.06

GRANDES DITADORES EM GUIMARÃES - 1 - MAO TSÉ TUNG

Todos temos conhecimento de que Mao era um amante do turismo cultural europeu e que andou por aí, incógnito, a passear. Esteve em Guimarães durante uma tarde de Agosto de 1969. Esta fotografia foi tirada nas Lameiras, pouco tempo depois de Mao ter emitido a sua opinião sobre a nossa cidade, dizendo que "Guimalães é glande e palecida com o meu quintalinho de Beijing". Instantes depois, dirigiu-se à sede clandestina do PCP onde fez uma pequena prelecção denominada "A Revolução Cultural Nos Minifúndios Minhotos".
Sim, foi ele o inesquecível estranho de pele amarela e óculos de sol bem escuros que jantou nessa noite, mudo e calado, um prato de rojões no restaurante Jordão.

22.2.06

ESTUDOS DA LINGUÍSTICA VIMARANENSE – TOMO UM – O DIÁLOGO

“Genius might be the ability to say a profound thing in a simple way.” - Charles Bukowski.

- A minha filha quer ire de férias cu moço[1]... Mas eu num bou deixare!
- Put* que pariu![2]
- Quê? Bocê deixabá sua?
- Fuod*-sssse![3]
- Anda muito liberale!
- Liberale?[4]
- Não[5], ando mazé eu…
- Put* que pariu![6]


Este pequeno diálogo, ouvido e gravado no café Milenário, é de uma riqueza fantástica. Note-se o entendimento entre dois indivíduos que falam num dialecto aparentemente próprio. Um deles através do uso (e abuso) do vernáculo consegue, ao mesmo tempo que expressa a sua indignação, dizer outras coisas mais, mantendo e, na minha opinião, ganhando esta acesa discussão. Há aqui um debate em que estão subentendidos Espinosa (com o seu pensamento racionalista), Hegel (que tinha a Razão como essência do próprio ser), Schoppenhauer (com o seu péssimismo), Wittgenstein (fase neopositivista) e muitos outros pensadores. O que se torna fascinante é a escassez de palavras com que todo este pensamento é posto a nu.
É nesta complexidade simples que reside a genialidade de nós, vimaranenses, quando nos expressamos, sem complexos, à nossa maneira.

Otelo de Guimarães


[1] Termo usado para designar namorado ou companheiro.

[2] Esta exclamação ultrapassa o simples vernáculo na medida em que significa apenas “eu deixava”. Obviamente que esta exclamação expressa uma violenta indignação.

[3] Aqui temos um excelente exemplo da riqueza ímpar da língua portuguesa: através da conjugação reflexa do verbo, um individuo consegue expressar a sua indignação (através do uso do vernáculo), dizer que permitiria a ida de férias da filha com o namorado (isto se estivesse no lugar do interpelador) e, para além disto tudo usar a ironia para reflectir a verdadeira causa que impede um pai de deixar a filha ir de férias com o namorado ( isto com o simples uso da palavra fod*r) .

[4] Indignação pura e simples. O individuo não se acha liberal. Sente apenas que está adaptado aos tempos em que vive e, ao mesmo tempo, lamenta o facto do seu amigo não se ter adaptado aos mesmos.

[5] A negação pela negação. É com um forte espírito de provocação que este “não” é dito (sarcasmo, ironia e uma pitadinha de ódio: tudo aqui presente!).

[6] Desolação pura e simples. Sentimento de revolta claramente presente (sentimento de pena pelo seu colega e pela sua mentalidade retrógrada).

21.2.06

A BURLA


Todos os dias, ao acordar, preocupo-me com a insegurança na cidade de Guimarães. É um pensamento que me ocupa cerca de quatro minutos por dia mas que prevalece durante todos os dias do mês. Em Fevereiro preocupo-me um pouco menos (isto em número de minutos) devido a questões de calendário, nas quais não me encontro envolvido. As minhas inquietações são legítimas e aqui, neste espaço de pública intimidade, vou contar-vos como fui, recentemente, burlado.
Descia eu, às 5h da madrugada, a Rua Francisco Agra (aka rua de Santa Luzia) e ia feliz da vida. Radioso como o Astro Pai cantava, alegremente, “En Soulevant La Fleur de Vigne” de Jean Rigaux quando, junto à capela, sou abordado por um senhor barbudo de avançada idade. Fiquei um pouco surpreendido quando o velhinho berrou o meu nome na gélida madrugada. “Que queres velho?”, perguntei eu. Um silêncio sepulcral surgiu como resposta. Após virar as costas para seguir o meu caminho ouvi o velho trautear um poema/canção: “Otelo, vai, Otelo/ sem saberes de tua sorte/ nesta noite sem par/ espera-te a tua morte/ pensa que o tempo é linear/ vá lá, não sejas corno/ era belo mas acabou-se/ o teu eterno retorno/ segue para tua casa/ onde deves rezar/ voa, dá à asa!/ que o tempo está a acabar/ e olha que tuas portas/ não deves tu fechar/ corre vê se te esforças/ se te quiseres salvar...” . Olhei para o velho aterrorizado. Este ria-se com um ar maquiavélico e soltou uma enorme flatulência antes de desaparecer na escuridão (deu, assim, o último ar da sua graça). Fiquei bastante desorientado com toda esta situação e resolvi fazer o que o velho me disse. Com esta capacidade instantânea de rima e com uma flatulência, no que diz respeito ao seu cheiro, de elevado calibre só podia estar a tratar com Belzebu em pessoa! Fui para casa, deixei todas as portas abertas, dirigi-me ao meu quarto e comecei a rezar a todos os deuses de que já tinha ouvido falar (isto porque nunca se sabe...). Adormeci em oração e agonia. No dia seguinte dei por mim acordado e, consequentemente, vivo. Fiquei um pouco no meu quarto para me certificar que tudo estava bem. Ao sair do quarto, a caminho da sala, pude verificar que tinha sido roubado. Estava tudo revolvido e faltavam-me objectos de decoração. Tinha sido burlado. Alguém se tinha aproveitado da minha crendice para me vigarizar. Chorei.
Felizmente que, ainda na rua de Santa Luzia, consegui fotografar, com o meu telemóvel, o velho burlão antes que este se esfumasse num flato (ver imagem). Penso que isto será determinante para a sua identificação pelas autoridades.
Caros vimaranenses é necessário combater esta insegurança que inquieta toda a cidade. Temos que agir, denunciar estas situações e não nos deixarmos vencer pelo medo ou pela vergonha.
Gostaria de aproveitar este meio de comunicação para avisar que se alguém vos tentar vender o quadro “Menino da Lágrima” (o original), um serviço de chá em ouro (com as iniciais O.G. gravadas) ou uma escarradeira (em louça de Sacavém) estão a lidar com um ladrão. Embora estas peças sejam de extremo bom gosto e, possivelmente, vos sejam vendidas a um preço acessível não as devem comprar pois estarão a incorrer no crime de receptação. Obrigado.
Otelo de Guimarães


Imagem do velho canalha que quase de certeza me gamou.

20.2.06

CARTILHA 4800 - LETRA V (B)

Bamos, Bitória, bence por nós! grita Bicente da bancada, com a boz cheia de bibacidade. Sou bimaranense e bibro com o Bitória, bocifera ante os bitupérios bindos de um bizelense baníloquo que tinha bindo ber a bola.

SÁBADO, DEZOITO.

As bandeiras nas janelas. As pessoas à chuva, na rua, à espera. Uma crença do tamanho do edifício Bela Vista. Os melhores adeptos do mundo. Que merecem um clube de acordo com a sua estatura, grandeza e devoção. O mundo é preto e branco. Eis que o autocarro vem e passa pela chuva e pela esperança feitas ruas. Se estivesse lá dentro, desatava a chorar. E as ruas cheias de gente. Chegava ao estádio e comia a relva. E a gente cheia de emoção e força. Marcava um golo e atirava-me para a bancada. E a força que dá um “ganhar, caralho” bem batido no vidro do autocarro. Tatuava o emblema no lado esquerdo do peito. Vitória? Sempre.

17.2.06

MIL E OITENTA ANOS DEPOIS

Ano: 926. Lugar: Vila do Castelo e Vila da Colegiada, unidas pela Rua de Santa Maria. Um grupo de devotos do orago S. Miguel, fartos da devoção a Nossa Senhora, ruma ao desconhecido Oeste. Atravessam o Rio Couros de barco, lutando contra ogres e bestas de igual calibre, bem como contra algumas impertinentes tempestades. Quase perecem em lameiras pérfidas. Chegam à freguesia prometida no dia dezassete de Fevereiro. Faltam setenta e quatro anos para o fim do mundo que ocorrerá no ano Mil. Sufixam esta ânsia com o nome Creixo, de origens dúbias. Fundam, bem longe do centro do burgo, a freguesia de Creixomil.
Mil e oitenta anos depois, a freguesia de Creixomil faz parte da malha citadina da cidade de Guimarães. Foi engolida pelo crescimento urbano, salvo a sua honrosa Veiga. Mil e oitenta anos depois, a distância histórica permite-nos concluir que já nos idos do século X existiam movimentos separatistas e divisionistas do concelho. E os Creixomilenares foram mesmo os primeiros nesta arte. Senão, porque razão foram para tão longe? A fundação esta freguesia no preciso local onde se encontra só pode ser lida à luz de uma ideia de edificar um burgo vizinho das terras de Vimaranis, tarefa que foi cumprida, alguns séculos mais tarde, por Famalicão. Ou seja, está aqui a génese deste tipo de movimentos divisionistas e migratórios. Numa escala maior, a própria cidade de Guimarães já quis sair do distrito de Braga, o próprio distrito de Braga já pensou em fugir do Minho para a Beira e o próprio Minho já quis ser, durante vinte minutos, parte de Pontevedra.
Por falar em movimentos divisionistas do concelho, eis que surge mais um: desta feita em Moreira de Cónegos, com a criação de um movimento que pretende a integração da vila no concelho de Vizela. O seu dirigente justifica a criação do dito com o facto da população estar farta de promessas não cumpridas por parte da Câmara de Guimarães.
É certo que está na moda criar movimentos migracionistas ou independentistas. Foi assim com Vizela e com aquele movimento das Taipas que tem sempre uma tarja nos jogos do S.C. Braga. Qualquer dia até a Rua de Camões e a Rua da Liberdade começam a dizer que também querem ser concelho. Agora, justificar a criação de um movimento desta estirpe com promessas não cumpridas – ou seja, com aquilo que é mais comum uma estrutura política fazer – é que não pode ser. Porque se fôr assim, até eu posso querer ser freguesia.
JG

15.2.06

CARTILHA 4800 - LETRA U

Umbelina, uma universitária de Urgezes, entra nas urgências, de madrugada, nua e a urrar. Está maluca, vou untá-la com um unguento no útero ou então electrocuto-a, diz Ulisses, o urologista de turno, enquanto tira o sujo do umbigo.

14.2.06

ATOARDAS VIMARANENSES

Tomei conhecimento da realização de uma peregrinação a Fátima por parte de um grupo de devotos da homónima felgueirense, que declinou ser a causa da romaria, deixando a motivação peregrinante para a epónima virgem.
Na mesa do café Milenário não penso em quem terá pago o frete de trinta autocarros - se a autarquia, se os fiéis eleitores. Antes dou graças a Deus pela senhora arguida não se chamar Lurdes.
JG

A CIDADE E A PRETENSA SERRA

A ideia de fazer uma pequena viagem na minha cidade começa com a conjugação de dois terríveis factores de sábado à tarde: em primeiro lugar, um terrível tédio que me acossa numa mesa janeleira no café Óscar, seguido de uma terrível vontade de me embebedar para esquecer o dito tédio. Malho, de imediato, dois cafés com cheiro, acoplados de dois portos e não demoro a sentir os vapores etílicos que a soalheira tarde de Inverno me oferece. Nada de anormal para quem está em jejum. Consequentemente, as ideias começam a fluir como dejectos industriais no Ave: já sei, vou à Penha de teleférico, acto de vimaranensidade que não pratico desde noventa e oito.
Nas Hortas, esse baluarte de uma pretensa nova centralidade vimaranense, respiro o cê ó dois acabado de libertar por um Seat quitado e caminho rumo à gare do teleférico, olhando o betão à minha volta como quem rói uma laranja na falésia. O parque das Hortas é um fenómeno curioso: escadas em betão, prédios, lojas abandonadas, um ribeiro nojento, mais betão irregular e um jardim abjecto. Há alturas em que a sua desordem, fealdade e frieza fazem lembrar as velhas cidades soviéticas. Por momentos, julgo-me em Odessa. Mas não, estou mesmo no coração de Guimarães, Minho, Portugal. Penso quem terá sido o iluminado que se lembrou de urbanizar aquele parque assim. Lembro-me do filme Dragão Vermelho e do Professor Hannibal Lecter a comer um violoncelista de uma orquestra só por que toca mal. Não vou tão longe, mas quase automaticamente penso em movimentos de cidadania que, através de um ou dois pares de tabefes, explicam a harmonia arquitectónica e o bom gosto a quem autoriza fazer e quem faz aberrações daquelas. Em três minutos, tenho vergonha daquilo tudo e apetece-me vomitar de nojo, acto que pratico, discretamente, num saco do mini preço abandonado numa cabine do teleférico, já a meio caminho entre a cidade e a serra.
Depois de uma viagem oscilante, chego à Penha - será serra, será montanha? - e contemplo de perto a igreja da Nossa Senhora homónima. É quase tão feia como a de Santa Luzia, reparo, enquanto constato que a arquitectura religiosa do século XX vimaranense é pautada pelo parolismo e mau gosto. Bons tempos os dos séculos XV e XVI, lembro com saudade. Entro na Igreja convencido que dois Pais Nossos me vão aliviar de tão grande tensão, mas engano-me. O interior da Igreja de Nossa Senhora da Penha, a nível de fealdade, dá quarenta a zero à sua fachada. Penso na quantidade industrial de pessoas que ali se casam por falta de referências de estética eclesiástica, penso na infelicidade que devem sentir ao saberem que o seu amor ficou selado ali, num lugar tão kitsh. O aterro de Gonça ou o Parque Industrial de Ponte, dentro do género, são bem mais bonitos. Tenho ainda tempo para ouvir uma mádame dizer “ò Saundra, despaicha-te que tiemos que apanharu telégrafo”.
Mais desolado fico quando vejo passar o comboio turístico a debitar decibéis de rancho folclórico, pejado de idosas mais ou menos embriagadas. Como diriam os ingleses, justos céus, mas porquê? O cenário é cada vez mais dantesco e só a vista da cidade, qual Los Angeles vista daquele miradouro imortalizado por Jimmy Dean em Fúria de Viver, me faz sentir levemente mais aliviado. Ligo para o meu psiquiatra que me aconselha a ir às Merendas. É lá que termino a tarde, a carpir as minhas tristezas em malgas de verde tinto e deliciosos bolinhos de bacalhau. Afinal, descontando a flora e os climas românticos do Pio Nono, é só mesmo por causa deste excelente estabelecimento de restauração que vale a pena passar uma tarde na Penha.
Jacques Guimarães.

10.2.06

CARTILHA 4800 - LETRA T

Todas as tardes, Teodoro Teles Teixeira trata de transportar transeuntes do Toural para Tabuadelo. É taxista, o Teodoro? Não, é um competente motorista dos TUG.

7.2.06

PASSEIO PELO PARK

Quando vou às Taipas adoro passear junto ao rio e ficar a olhar. Quando se olha para um rio vê-se sempre algo diferente porque a água que passa nunca é a mesma. Após cerca de cinco horas de observação deste gratificante espectáculo de diversidade parei para meditar e descansar. Foi neste momento de pausa e de pensamento que um turbilhão de perguntas surgiu: Será que o Instituto Ibérico de Investigação e Desenvolvimento vêm para Guimarães? Será que vai ficar no Parque Tecnológico das Taipas? Será que se está a fazer alguma pressão (como acontece em Braga) para que este importante instituto fique na nossa terra?
O “Ave Park” será, ao que parece, fruto de uma parceria da Câmara Municipal de Guimarães da Universidade do Minho. Terá uma área inicial de 38 hectares e apostará, principalmente, em empresas de software e de biotecnologias. Está a ser, sem dúvida, uma vitória para Guimarães a realização deste projecto.
Quanto ao Instituto Ibérico de Investigação e Desenvolvimento pode desde já dizer-se que, segundo Mariano Gago, acolherá cerca de 200 investigadores (na sua maioria portugueses e espanhóis) e terá um investimento anual de 30 milhões de euros.
José Sócrates disse que este instituto ficaria sediado em Braga não tendo especificado se se referia à cidade de Braga ou ao seu distrito. Penso que faz todo o sentido a colocação deste instituto no Parque Tecnológico das Taipas. Independentemente disso, como bom vimaranense que sou, quero que esta fonte de progresso, investimento e, consequentemente, de emprego venha para a minha terra. Quero também que os responsáveis da minha terra e que os deputados naturais de Guimarães (que fazem parte do partido do governo e de partidos da oposição) façam pressão para que isto aconteça!
Quanto a mim resta-me continuar a olhar o rio e ver água sempre diferente a passar. É que mais do mesmo já chega!


Otelo de Guimarães

4800 JYLLANDS OU TESTEMOS A NOSSA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

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"Depois de dar porrada na minha mãezinha, depilo-me sempre com as melhores ceras do Condado, enquanto espero que o Egas Moniz me venha fazer feliz."
A.H., 19 anos, Campo de S. Mamede, Azurém, Guimarães

2.2.06

CARTILHA 4800 - LETRA S

Serguei é russo e sonha com o sucesso. Mas sendo sociólogo licenciado pela Universidade de Novosibirsk, serve sandes, sopa e sarrabulho num snack em Serzedelo. Aos sábados - e à sucapa de Sonya, sua senhora - vai às sessões socialistas em Sande onde sassarica sobre sexo com sessenta ex-soviéticos.

1.2.06

INCOMPREENSÕES VIMARANENSES (2)

Os resultados não surgem. A crise existe. A tabela não engana. O balneário não tem rédea. Os adeptos desesperam. É preciso agir.
Onde estás tu, José Sousa Agressor?
CG

HEIDI E MARCO EM GUIMARÃES (1)

- Como podes ver, Marco, também na noite - sim, Marco, nessa noite que tu tanto gostas e que te corrompe, nessa noite que te engole e te escarra nas madrugadas húmidas sem glória - também na noite, dizia, Guimarães está muito à frente. Aqui fica o Dois Arcos, quase tão antigo como o Castelo, mais respeitado que o Padrão do Salado. Uma autêntica lenda dos oitentas vimaranenses, que resiste à chama do tempo, povoada pelos morcegos da cidade que não dorme. Se quiseres comer uma vitelinha às seis da manhã, já sabes.
- Wow, Heidi, este Pub Grill é colossal. E está aberto até de manhã? Ui, faz-me lembrar a frase de Rabelais: "levantarmo-nos de manhã não é bom; beber de manhã é o melhor". Será que servem chispalhada?

CARTILHA 4800 - LETRA R

Ramiro vem de Roças rosnar às raparigas roliças de Ronfe que rasgam sorrisos e risotas da matarruanice do rapaz. Revoltado e irritado, Ramiro rasga as roupas de raiva, agarra no revolver e reclama "respeitem o meu rosnar". As roliças raparigas que já não riem, antes berram de terror.