22.12.06

GRANDES DITADORES EM GUIMARAES IV - O PAI NATAL


O Pai Natal posa no Toural. A máquina que o fotografa foca mal. Fuck, foca, festas felizes, etc. e tal. Voltamos depois da quadra.

20.12.06

ESTUDOS DA LINGÍSTICA VIMARANENSE - TOMO II - A RIMA

Noutro dia (que não o de hoje) passeava eu, impunemente, pela Rua da Rainha quando, para espanto dos meus ouvidos e meu consequente pasmo, ouvi uma música. Não era uma das habituais músicas de Natal, era uma música que brotava do “Zeca Paulo’s – Espaço Arte” e que me deu o mote para escrever mais um pequeno texto sobre a linguística vimaranense.
A letra era a seguinte: “Vamos ao Ferreira lá o vinho é que é bom/ o vinho do Ferreira até aquece o coração”.
Fiquei absolutamente estupefacto com a riqueza destes dois versos. Em primeiro lugar dá-se a repetição despreocupada dos nomes Ferreira (duas vezes) e vinho (também duas vezes) apenas em dois curtos versos. Em segundo lugar há uma rima sem rima.
Quanto à repetição da palavra “vinho” não há grande surpresa. O vinho é um elemento (como a água, o fogo, a terra, o metal e a madeira) fundamental para o vimaranense/ minhoto, é o seu sexto elemento. “Ferreira” surge-nos em duplicado nestes versos. Amizade? Jogada comercial? Palavra musicável ou poética? Um amor secreto? Nunca o saberemos.
Contudo é a já referida rima sem rima que mais surpreende os estudiosos. Se de facto “bom” não rima com “coração”, “baum” já rima com “coraçom”. Usando a pronuncia (e a entoação) local esta rima é facilmente verificável. E mais: há aqui uma grande riqueza fonética. Reparem, é fácil ouvir o ribombar de um bombo no supracitado “baum”!
Mais uma vez a linguística vimaranense dá provas de um carácter único que é capaz de surpreender o mais perspicaz linguista e de, certamente, fazer corar qualquer responsável pela TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário).

Otelo de Guimarães

17.12.06

A FRASE

Salvo pontuais excepções, ler ou ouvir a comunicação social desta cidade tem mais piada que assistir ao Gato Fedorento.
Jacques Guimarães in Tertúlias do Café Lopes, 2006.

13.12.06

GIMME FIVE, BROTHER *

Fácil é compreender que a mundialização do património de Guimarães transversalizou a sociedade e trouxe melhorias a quase todos os níveis. Se, do ponto de vista do património e da sua conservação tais melhorias são evidentes, de um ponto de vista individual - quase psicológico, arriscaria - tais melhorias são, também, bastante notórias. Apontam-se duas:
Em primeiro, uma melhoria dos níveis de autoestima dos vimaranenses enquanto tais: sai reforçado o orgulho de se ser de Guimarães. Pese embora todos os excessos bairristas e parolos, é este gostar da terra que faz com que ela avance e se imponha, claramente, como uma cidade que está na moda (e está-o, merecidamente, há uma data de tempo).
Em segundo lugar, uma melhoria dos níveis consciência cívica: sai reforçada a abertura de espírito e o cosmopolitanismo. A cidade vive melhor com os forasteiros (já vão longe os tempos de ódio aos estrangeiros da Universidade, célebres nos anos noventa), compreendeu a importância do turismo e demonstra um carinho pelo seu centro - a nível de limpeza das ruas, das paredes dos edifícios - fruto de muitas horas de consciencialização.
Guimarães, Património da Humanidade: em dia de aniversário, os parabéns vão para aqueles que, há vinte anos, se lembraram desta ideia, para todos os que nela pegaram e a tornaram verdade e, acima de tudo, para GTL: é graças a esta equipa que isto vive nivelado por cima. Coisa rara, nos dias que correm.
Em dia de sardinhas e passarões, dirá o político: "celebrando este quinto aniversário, é, pois, tempo de levarmos a cabo uma profunda reflexão e de projectarmos o futuro olhando para o passado". E dirá o guna: "Guimaráinz alê, Guimaráinz alê!".
E pronto, e quando muitos de vós até já tinham afirmado bem, afinal este Jacques até consegue ter um discurso sério e coiso, eis que o próprio autor não deixa os seus créditos por mãos alheias, rematando o seu texto com a sua mítica chalaça.
Jacques Guimarães Allez
* inspiração colhida aqui

11.12.06

JACQUES ARROBA BRÁSIU

full story here

Ruth Pinheiro lembra que aconteciam muitas festas no palacete (...). Eram festas onde compareciam os amigos dos irmãos, dentre eles Afonso Arinos, João Guimarães Alves, Emílio Moura, Jacques Guimarães, Fritz Teixeira Sales e Milton Campos, que mais tarde vão adquirir notoriedade nas letras e na política.(20)
Pedro Nava descreve uma destas festas:
Sua mãe ia dar um grande jantar seguido de baile para festejar o noivado de sua filha Virgínia. (...) Lembro que fiquei na mesa do professor Nelson de Sena o qual durante o jantar contou a sua vizinha Maria do Carmo de Melo Franco toda a história do Caraça, dos padres lazarentas, dg Congregação da Missão, do Irmão Lourenço, de sua possível origem nos Tavoras (...) que esperavam os outros condenados (...) . Depois tivemos baile, muita chuva nas mas ruas e foi nessa noite que conheci Jacques Guimarães e sua prodigiosa chalaça (21).

SOTAQUES

Este fim de semana prolongado deambulei pelo Minho e Douro Litoral. Visitei Fafe, Felgueiras, Trofa, Barcelos, Póvoa de Lanhoso, Vila Verde, Terras de Bouro e Darque, onde, segundo a lenda, os Pink Floyd terão bebido inspiração para gravar este álbum. Num jantar em terras de D. Teresa cativa, um amigo meu acusou-me de ter sotaque à Guimarães, fundamentando-se no modo como proferi a palavra "garfo". Sorridente, cuidei que aos Guimarães - minha família - se referisse, já que todos ciciamos um pouco, por muito que "garfo" a isso não obrigue. Mas não. Referia-se, ele sim com um acentuadíssimo sotaque lanhosense, à alegada pronúncia à ou de Guimarães. Ora tal acusação não tão só me pareceu injusta como também roçante do ultraje. É que se há sítio onde o português do norte não tem qualquer tipo de sotaque, esse sítio é Guimarães. Toda a gente está ciente da pronúncia nortenha de Fafe, de Felgueiras, de Minde, do Arcebispado, da Trofa, etc. etc. Mas é profundamente errado dizer-se que se tem sotaque à Guimarães. É que esta cidade é a única onde o português com pronúncia do Norte é falado sem sotaque, só com pronúncia do Norte.
JG

7.12.06

CARTA A WOLFGANG AMADEUS MOZART

Exmo Senhor
Wolfgang A. Mozart
Getreidegasse 9, 5020 Salzburg
Österreich / Áustria

Exmo Senhor:

Escrevo-lhe em nome de uma parte razoável dos Vimaranenses que, na passada sexta e no passado sábado, tiveram o prazer de assistir a uma ópera sua, chamada As Bodas de Fígaro. Caro Senhor: creia-me que nada temos contra a sua música em geral nem contra as Bodas em particular. Queriamos era pedir-lhe um grande favor, que vai de encontro à nossa vontade enquanto espectadores, vontade essa tida como soberana: será que é possível que, da próxima vez que venha a Guimarães, apresente as suas óperas em versões mais curtas, sem algumas das partes mais chatas? Tipo um resumo? É que quatro horas quatro de Bodas é um bocadinho demais e aquilo chega a tornar-se um bocado irritante. Não haverá hipótese de fazer isso em menos tempo, digamos, em duas horas e meia no máximo? É que para coisas longas já nos bastam alguns filmes do cineclube e alguns concertos do Guimarães Jazz ou tipo do género. É assim, lá nos outros sítios, apresente as óperas com a duração que bem entender. Agora aqui, caro Senhor, se quer continuar a ter casas cheias, a coisa tem que ser mais curta. É que estas Bodas, como teria dito o imperador, naquele filme sobre si, têm notas a mais . Creia-nos, caro Senhor, que nada temos contra a sua música, muito menos contra si. Mas lembre-se que não está em Praga nem em Barcelos. Está em Guimarães.
Um grande abraço e continuação do bom trabalho,
Jacques Guimarães.

6.12.06

PARA OS CÉPTICOS

Ainda não é desta (porque só gosto de falar do que sei) que vou dizer porque acho que as Nicolinas podem vir a ser Património Oral e Imaterial da Humanidade.
Vou antes falar de críticas injustas e descabidas.
Ultimamente têm vindo a ser apresentados argumentos pouco válidos e com pouco sentido crítico (por que criticar não é só dizer mal) para refutar uma eventual candidatura das Nicolinas a POIH.
-Se actualmente o ponto alto das Nicolinas é, sem dúvida, o Pinheiro não se pode dizer que todos os outros números nicolinos não tenham espectadores/ participantes. A sua própria natureza é que “impede” que se atinjam os gigantescos números do Pinheiro (note-se que este número tem uma participação que deverá rondar as cem mil pessoas num concelho com cento e sessenta mil…). As Danças de S. Nicolau e as Maçãzinhas são, que eu saiba, números com um bom número de participantes (ainda que as Maçãzinhas tenham perdido o brilho de outros tempos…).
De qualquer das maneiras, ainda que sejam poucas as pessoas que acompanham os restantes números (o que como já disse se deve em parte à natureza dos ditos números) um dos factores que destaco no espírito nicolino é precisamente o de, apesar de inúmeras dificuldades (e falo de proibições do Governo Civil, ameaças de excomunhões por parte da Igreja, etc) os nicolinos, ainda que em pequeno número, terem conseguido manter vivas as festas ao longo dos séculos.
-Quando falamos de uma festa com a dimensão do Pinheiro devemos ter cuidado para não entrar em certo tipo de demagogias. É natural que numa festa com um número elevado de participantes se cometam excessos de vários níveis. Das grandes procissões religiosas, a festivais de música, passando pelo Carnaval (Brasil) e por Queimas das Fitas (e Enterros da Gata), o tipo de excessos que são criticáveis no Pinheiro estão sempre a acontecer. As autoridades sabem que as grandes concentrações de pessoas geram (ou podem gerar) confusões de vários níveis. E isto acontece em vários países do Mundo.
- O facto de se verem jovens de tenra idade alcoolizados no Pinheiro não é culpa das festas. É culpa dos pais.
-A falta de estudos sobre as Nicolinas é um problema do momento. Podem vir a fazer-se.
- Nas Nicolinas não impera uma “vimaranensidade marcial”. Qualquer estudante do ensino secundário de Guimarães pode ser nicolino. Seja do Porto, de Braga ou de Vizela. Quanto aos estudantes da Universidade, já fizeram parte das Nicolinas e ninguém me diz que daqui a vinte ou cento e vinte anos não voltem a fazer…
Ao falarmos das Nicolinas estamos a falar de uma celebração com um carácter único, que tem sido preservada, a custo, durante séculos.
Se todo este cepticismo que existe em relação ás Nicolinas POIH existisse quando se começou a pensar na Guimarães da Humanidade, esta nunca teria existido. Porquê?
- Ah, este centro histórico é muito pequeno e está demasiado degradado… Teria sido este o argumento (fácil) que muitos, com falta de fé, utilizariam, não reconhecendo à cidade o seu verdadeiro valor histórico.

5.12.06

TARDE E A MÁS HORAS...

...Assinalamos com júbilo o primeiro aniversário de um Grande Senhor de Guimarães e da sua blogosfera. Parabéns, caro Spicka.

PATRIAL IMATRIMÓNIO????

(revisto e clarificado)

É ainda na ressaca do Pinheiro que escrevo estas linhas, ao som do Requiem, brilhantemente drigido por Karl Böhm, assinalando desta forma, o aniversário do desaparecimento de Mozart, cujo ano homónimo só não passou em claro no CCVF por nossa recomendação, se bem que tal acto cívico não nos valeu nem bilhetes nem convites. Trampolineiramente, nada dissemos sobre o centenário do nascimento de Lopes Graça e, azar dos azares, teremos de ir aqui se o quisermos assinalar. É que no CCVF, nem cheirá-lo, ao contrário do seu pestilento bar.

Mas desçamos a Afonso Henriques, passemos a Alameda e detenhamo-nos no Campo da Feira. É aí que encontramos o meu grande amigo Otelo de Guimarães, a tocar caixa furiosamente, à espera que a UNESCO ouça os seus pregões sentimentalistas. Otelo defende, tal como quase todos, que as Nicolinas devem ser Património Imaterial da Humanidade. Eu, como pessoa de bem, creio que tal desiderato é coisa em que não se pode pensar nos próximos cem anos. Ou seja, sou setenta por cento contra. E sou-o por sete razões:

Em primeiro lugar, como bem nota Diuner de Guimarães, faltam estudos sobre as Nicolinas. E faltam, sobretudo, visões desinteressadas sobre as Festas. Visões de não-vimaranenses, para dar um ar credível à coisa, se bem que seria deslumbrante a observação da reacção do Nicolino de Massas quando confrontado com
a) Um estudo academicamente imaculado, mas de visão desfavorável às Festas, feito por um bracarense sócio do Sporting local.
b) Um estudo academicamente imaculado, de visão favorável às Festas, feito por um bracarense sócio do Sporting local.Num e noutro caso, o Autor correria risco de ser, ele próprio, transformado no monumento Nicolino propriamente dito. É que toda a gente sabe que gajos do arcebispado não podem nem devem escrever sobre as Nicolinas e, quando o fazem, não podem dizer mal.

Em segundo lugar, as Nicolinas, actualmente, são um bocado como o Vitória do ano transacto: Saganowski e mais dez, sendo que no caso concreto, substituímos o Saga pelo Pinheiro e os mais dez pelas restantes festas. E o Nicolino de Massas é como um Vitoriano idem, só que neste caso o clube tem mais uns séculos em cima.

Em terceiro lugar, as Nicolinas não têm um sítio decente na internet e, como diz o meu papagaio, o que não está no Google, não existe.

Em quarto, as Nicolinas são festas de um intenso e imenso exclusivismo, onde impera uma vimaranensidade marcial. Veja-se o que acontece a quem não é da casa e é apanhado a tocar caixa, mesmo que certinho. Veja-se o que é que se pensa relativamente à abertura das festas a universitários não autóctones, por muito que habitem a cidade há considerável tempo.

Em quinto lugar, as Festas são o lugar costumeiramente privilegiado para ajustes de contas mal resolvidas durante o ano grassando no ar um sentimento de impunidade muito grande, potenciado pelos vapores etílicos.

Em sexto lugar, as Nicolinas são palco privilegiado do consumo de álcool e de substâncias psicotrópicas por putos de tenra idade, consumo esse feito sob as pérfidas vestes dos rituais de iniciação. A melhor descrição de sessenta e dois vírgula sete por cento do espírito Nicolino pode e deve ser lida aqui.

Finalmente, e em sétimo lugar, considerando que esta “cena” do Património Imaterial da Humanidade se resume a adoptar “medidas que visem assegurar a viabilidade do património cultural imaterial, incluindo a identificação, documentação, pesquisa, preservação, protecção, promoção, valorização, transmissão, essencialmente através da educação formal e não formal, bem como a revitalização dos diferentes aspectos desse património”, eu pergunto se uma empresa municipal não assegura tais medidas e se, muitas destas não estão já salvaguardadas. É, pois, preciso prudência, muita prudência. Ou então, qualquer dia ainda nos arriscamos a que as Passarinhas e os Sardões de Santa Luzia também comecem a sonhar.

A inviabilidade desta pretensão Nicolina reside, para além do que acabou de se escrever, neste último parágrafo. É que é certo e seguro que daria para encher uma bancada lateral do Afonso Henriques o número de leitores nicolinamente de massas que, depois de lerem estas linhas, de bom grado me partiriam a dentição pela exclusiva razão de opinar do modo que opino. O problema é que estes laivos não são compatíveis com os requisitos da UNESCO.

Jacques Guimarães

AS FESTAS NICOLINAS

As festas Nicolinas (o culto de S. Nicolau) atravessaram até chegar aos nossos dias oceanos de tempo. Foi bonito não foi? Vamos a (quase) factos: este culto remonta ao século XI e terá chegado a Guimarães no século XIV.
A essência das festas Nicolinas é, na minha opinião, a mistura entre o religioso e o profano (como acontece em muitas festas da cristandade) e a apropriação desta mistura pelos estudantes. É muito provável que esta apropriação das festas pelos estudantes tenha acontecido quando foi instalada em Guimarães a Universidade da Costa (Estudos Gerais da Costa). Na minha opinião é neste momento que nascem as Nicolinas. Este estabelecimento de ensino trouxe para Guimarães estudantes vindos de fora que, muito provavelmente, terão dado um sentido académico/estudantil a um culto, até então, religioso/profano.
Desta época, que eu saiba, não há documentos que atestem esta teoria. Sabe-se que mais tarde, em 1663/64, os estudantes edificam a capela de S. Nicolau e que algumas décadas depois (em 1691) é criada a irmandade de S. Nicolau.
A tradição Nicolina, tem por base uma festa académica, irreverente, em que se mistura o religioso e o profano. Os “números” nicolinos fazem parte da tradição mas não são a tradição. Uma das coisas mais interessantes destas festas é a mutabilidade dos seus números (das suas representações) e a sua adaptação ao longo dos tempos. É de notar que esta adaptação não consiste num conformismo ou numa resignação de qualquer espécie. Consiste, na maior parte das vezes, num espírito irreverente que, ao longo dos séculos, se foi adaptando para poder continuar a provocar e a ser irreverente.
É esta singularidade e a continuidade, no tempo, de uma maneira de estar e de um espírito académico e juvenil que transforma estas festas em algo de tão especial. Não são os números e as representações que são tradição. É o espírito das festas. O espírito nicolino.
Penso que este carácter único poderá tornar as festas dos estudantes de Guimarães, as Nicolinas, numa Obra-Prima do Património Oral e Imaterial.
Brevemente explicarei porquê.

Otelo de Guimarães